16 de abril de 2013

SENDO PAI E MÃE DE NÓS MESMOS...




A maioria de nós, em algum momento de sua vida, deve tornar-se pai e mãe de si mesmo. Não devemos esperar, para isso, que nossos pais faleçam antes. O desafio é o de desenvolvermos, em nós mesmos, uma consciência, ao mesmo tempo, materna e paterna. Isso exige, naturalmente, a maturidade para libertar-se dos vultos externos de pai e mãe, na dependência que caracteriza a infância, e reconstruí-los dentro de nós mesmos, no mais íntimo de nossa identidade.

A consciência materna é profundamente afetiva. Ela nos acalanta, nos afaga: é pura ternura e carinho. Ela nos desculpa. A consciência paterna, por sua vez, é mais racional. Ela nos censura quando agimos de modo inconsequente. Ela também nos disciplina conforme necessário.

Não se trata de incorporar o pai e mãe reais que tivemos e que podem, em alguns casos, até terem sido exemplos deficientes de paternidade ou maternidade. Trata-se, antes, de edificar uma consciência paterna sobre sua razão e julgamento, tanto de si mesmo como dos outros e uma consciência materna sobre a sua própria capacidade de amar-se e de amar aos outros.

Não há necessidade de escolher uma consciência sobre a outra. Assim como temos consciência de que somos amados pelo nossos pai e mãe, ainda que de modos diferentes, também desenvolvemos a capacidade de amar com a consciência paterna e com a materna. Juntas, em interação. Elas não se contradizem, embora talvez, em um primeiro momento possam ameaçar fazê-lo.

O amor da consciência paterna é guiado por princípios e expectativas. Deve ser tolerante e paciente, mais do que ameaçador e autoritário. É uma manifestação de amor que constrói um senso de competência no outro e que o ajuda a ser autônomo e a tomar as suas próprias decisões.

O amor da consciência materna é embasado na fé na vida. Transmite segurança e proteção. Por esperar o melhor de si mesmo e do outro, não se firma na ansiedade, mas no otimismo e na esperança. Uma pessoa que detém apenas a consciência paterna torna-se áspera e rude no seu exagerado senso de justiça e de correção. A pessoa que retém apenas a consciência materna, perde o critério de julgamento e acaba por atrapalhar o seu próprio desenvolvimento e o de outros.
 Por isso, ambas as formas de amor necessitam vir equilibradas entre si, para que uma forma de consciência e de amor regule a outra e constituam a plenitude de nossa identidade.





9 de abril de 2013

O FUNCIONAMENTO DE UM TEXTO - PARA PENSAR A ESCOLA

É comum pensarmos no texto como um produto acabado, funcionando como uma estante, na qual se encontra a informação que se deseja. Vamos até o texto-estante, pegamos essa informação e já está! Porém um texto não é um produto, nem algo pronto e acabado como uma estante: ele é um processo.

Considerar o texto como um processo tem repercussões no nosso modo de nos relacionarmos com ele, ou seja, de sermos leitores. Embora um texto escrito pareça terminado depois do ponto final, ele está apenas começando a sua história. Ao longo dessa história ele participará em diferentes recepções pelos diversos leitores. 

Todo texto apresenta-se como uma provocação ao leitor, uma proposta de sentido aberto a várias possibilidades de compreensão. Nem todos os sentidos construídos pelos diferentes leitores estarão de acordo com as intenções pelas quais ele foi produzido. Essas diferentes compreensões somente poderão, portanto, se legitimar se forem compatíveis entre si e, de algum modo, se relacionarem com o processo inicial que deu origem ao texto.

Um texto, é verdade, deve preencher alguns critérios de formulação, mas esses não são condições que se traduzam numa gramática do texto, como um conjunto de regras fixo de boa formação ou boa leitura. A coerência de um texto relaciona-se intimamente com a perspectiva interpretativa do leitor. Um texto pode ter coerências diversas a partir da perspectiva interpretativa do leitor. 

Convém destacar, no entanto, que um texto também não pode ser visto como uma caixa de surpresas da qual pode sair qualquer coisa. Ele tem um objetivo social: comunicar. Se qualquer compreensão de um texto fosse válida então todos nós viveríamos em eterna confusão. Há limites para a interpretação de um texto. Isso significa que o processo de construção de coerência do leitor, na busca de construir a compreensão de um texto, nem sempre é feliz.

Consideraremos, portanto, um texto como um evento ou ato comunicativo para o qual convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas. A função central de um texto não é informar, mas constituir identidades, ou seja, adequar um leitor a um determinado objetivo e contexto. Desse processo, resulta a comunicação. Por isso, podemos afirmar que o sentido de um texto não está no autor, nem no próprio texto, tampouco no leitor, mas nas relações entre eles e nas atividades que eles desenvolvem entre si. 

Em outras palavras, aprendemos a compreender um texto, lidando com ele, com as suas fronteiras e possibilidades. A escola, portanto, deve centrar na leitura um dos seus principais trabalhos educativos não sobrecarregando os estudantes de textos para ler, mas por desenvolver um currículo e uma metodologias centrados na prática leitora.


2 de abril de 2013

EDUCAÇÃO SEM EXCLUSÕES!

O medo pode engessar nossos mais bem intencionados movimentos. O medo pode nos educar. O medo pode nos indicar o caminho a seguir.

O caminho do medo deseja excluir o Outro para que nos possamos sentir seguros. É um caminho que sufoca o desenvolvimento espiritual. 

O amor também nos educa e nos mostra caminhos a percorrer.

O caminho do amor motiva-nos a movimentos de crescimento e de acolhimento. É o caminho da espiritualidade.

Excluir é negar o Outro. Porque o Outro não é quem nós mesmos somos, nos sentimos incomodados. A educação promovida pelo medo de sentirmo-nos menores diante da variedade que o Outro nos proporciona pode levar-nos a considerar as suas diferenças como uma ameaça tão grande que é melhor que ele saia do caminho. A educação do medo promove o espírito da morte. Então se esse Outro não é como Eu quero que ele seja, o melhor é tirá-lo do meu caminho. Excluí-lo. 

 Não temos, claro, coragem de chegar lá e ‘pam!’ matar o outro. Não, o medo nos educa a sermos mais sutis. Inventamos desculpas como “Ele devia voltar para a terra dele! O que ele está fazendo aqui? Ele era mais feliz lá onde morava!” ou “Tinha é que acabar com essa gente para voltar a ser o que era antes! Isto é uma afronta!” ou “No meu tempo não era assim” ou um monte de palavreado e de gestos que ‘mata’ o direito que o Outro tem de existir. 

Neste caso, transformamos o pouco que sabemos sobre tais pessoas que supostamente tanto nos incomodam, numa espécie de verdade absoluta. Essa verdade é suficiente para nos causar repulsa porque nos mostra que esse Outro não é como desejaríamos que eles fossem. Mas essa nossa pequena verdade não está de acordo com a espiritualidade de Cristo que, de fato, é Verdade e é Vida.