11 de setembro de 2009

PODEMOS SER OUSADOS





Por anos, as mudanças acenadas para a Educação esbarravam no constrangimento proposto pelo Vestibular. Em nome desse constrangimento a uma Proposta Curricular mais ampla, agia-se, muitas vezes, de modo próximo a uma esquizofrenia pedagógica, dividindo-se o discurso educativo em uma conflituosa prática didática. Mudanças nos programas de acesso ao Ensino Superior vestiram os processos de ensino-aprendizagem de uma saudável urgência para 2010. Cria-se, desse modo, um espaço para a ousadia: podemos ser ousados, o que não significa sermos inconseqüentes.
Diferentes linguagens inundam o nosso dia-a-dia: recortes do mundo que nos conduzem a um lugar. Recortam e representam as diversas realidades de nossa existência – aquelas que pertencem ao nosso exterior, as que constituem o nosso interior e as que surgem do encontro dessas duas. Recortadas e representadas por meio de sistemas arbitrários (as linguagens), as realidades se organizam, constroem sentidos, se transformam em pontes que nos ligam ao outro e à interioridade de quem somos.
Dessa forma, a linguagem surge aqui como a capacidade humana de articular significados coletivos que, pertencendo ao grupo, são ao mesmo tempo, manifestações individuais. Significados coletivos que objetivam a produzir sentido.
O sentido não é algo que nasça conosco. Ele é construído. Revela-se nisso o amor de Deus que nos permite, na liberdade de nossas consciências, elaborar os nossos caminhos, visando à plenitude de nossa existência.
Talvez alguns se perguntem: Mas, nessa perspectiva o que significa, de modo prático, estudar linguagem? Por que se fala tanto em mudar? Precisamos mesmo mudar tanto assim?
De modo prático, anuncia-se há muito tempo um deslocamento de eixos no estudo das linguagens. O ponto central de seu estudo desloca-se, sem negá-lo, da visão da linguagem como objeto, para assumi-la como espaço ou caminho no qual se constrói o conhecimento e as identidades.
Considerando este contexto, não são de estranhar as palavras, tanto ousadas como verdadeiras, com que o Verbo, o Logos, a Palavra de Deus, se refira a si mesmo: “Eu sou o caminho” (João, 14.6). A linguagem é caminho que nos permite a construção do conhecimento de verdades. O próprio Jesus afirmou: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8.32). Ser livre é ser algo, ou seja, ter uma identidade, tanto psíquica (e, portanto, pessoal), como social (e, desse modo, partilhada).