9 de setembro de 2013

OLHARES PARA A VIDA


Nossos olhares para o mundo podem ser divididos em dois: o olhar de presença e o de ausência.O olhar de presença presta atenção, estando disposto a enxergar o melhor e a promover o bem. O olhar de ausência é indiferente e apressado, não está preocupado legitimamente com aquilo a que se dirige.
Por vezes, nosso olhar enxerga a solidão. Em alguns momentos a solidão é desagradável e deve ser evitada. Contudo, ela nem sempre é um sentimento ruim, pois pode tornar-se uma oportunidade para a reflexão: um diálogo entre nós mesmos e uma oportunidade de repensarmo-nos diante da vida e de seus mistérios.
Esses momentos de solidão são também momentos de silêncio e de abertura para que o mundo nos interprete. São momentos em que entramos em contato com o Mistério da vida.
Todos nós sentimos necessidade constante da palavra: falar e ouvir, por isso, os momentos de silêncio podem parecer muito difíceis.
Nesses momentos olhamos e percebemos a realidade ao nosso redor. O silêncio permite-nos prestar maior atenção nos fatos do mundo, para compreender a realidade e  comunicarmo-nos com ela.
Segundo Martin Buber, nosso olhar pode ser de observação, como quando olhamos as coisas buscando identificar todas as suas características. Pode ser também de contemplação,  quando temos a intenção de conhecer a essência do outro que ali está, registrando aquilo que nos impressiona no que observamos, prestando atenção a detalhes que passariam desapercebidos no processo de observação. Pode ser também de tomada de conhecimento íntimo, quando nos esforçamos para ver o outro, como parte de quem somos, permitindo-nos que ele nos diga algo que se projeta no interior de nossa própria vida. Todos esses olhares são importantes e colaboram entre si para a construção de nossa identidade.
No olhar que enxerga o outro como parte de quem somos há o convite para repensarmos a vida e planejar as nossas ações futuras. Tomamos assim decisões sobre quem somos e quem desejamos ser. Cultivamos uma espiritualidade que se faz compreensível e presente no mundo e que se nos relaciona individualmente com valores que estão para além de nós mesmos e de nossas necessidades mais imediatas.
Precisamos de nossas sensações para construir a nossa espiritualidade e descobrir na intimidade de quem somos o Mistério Transcendente. Segundo Edith Stein, todas as nossas sensações podem agrupadas em três categorias: orgânicas (a fome, a sede, o sono etc); emocionais (a alegria, a dor, a melancolia etc.) e espirituais (a sensação de estar vivenciando o Transcendente, o amor desinteressado etc.).

5 de setembro de 2013

O AZUL DO SILÊNCIO


Julian Opie (2000). Cowbells Tractor Silence. Londres: Tate Gallery


Em algum momentos damo-nos conta de que nunca poderemos compreender tudo ao nosso redor. Nesses momentos, somos convidados a abrirmo-nos a que o mundo nos interprete. Nesse momento, podemos, em silêncio,  olhar para o interior de nós mesmos, e ali encontrar-se com o Transcendente, o Mistério mais profundo da vida se comunica conosco e nos motiva à ação. 
Nesse momento, percebemos que nossa identidade não surge do nada, que as coisas não se fazem por si mesmas, mas que embora haja algo além do que é mais imediato e que nos cerca, temos a oportunidade de construir a felicidade considerando, também, a presença cotidiana desse mistério sagrado que se manifesta na própria vida. Viver pode se tornar, então, uma constante experiência mística.
A obra de arte, de Julian Opie,  ja desde o seu titulo, evoca o silêncio. O ceu azul toma quase que a totalidade da obra, deixando a nossa mente livre para ‘voar’. Mas, ao longe, uma casa, nos lembra que a presença humana é importante, fundamental para voltarmos desses momentos de interioridade e continuarmos as nossas caminhadas.