21 de março de 2013

EDUCAR PARA A FELICIDADE


Sim, é verdade que felicidade não é uma palavra que signifique o mesmo para todos. Como a palavra “moradia” também não. Moradia para alguns é uma casa, para outros um apartamento, e assim vai... mas o que faz de uma construção qualquer uma moradia? A prática. A moradia, o lar, é uma construção praticada. Do mesmo modo, os diferentes conceitos de felicidade: apresentam disparidades entre si, mas para serem legítimos, devem trazer a possibilidade da prática. A felicidade não pode ser algo inatingível. 
É a prática da felicidade que deve estar no centro de nossas preocupações como educadores. Isso é um grande desafio, dada a nossa herança de séculos de confusão entre seriedade e tristeza. Parece que pessoas tristes e carrancudas são mais sérias e confiáveis. Essa perspectiva já aparece na visão filosófica de Aristóteles e está redondamente equivocada. Pessoas mais tristes não são, necessariamente, mais merecedoras de nossa confiança. Ao contrário, a tristeza pode resultar na falta de atenção para com o próximo. Como educadores, precisamos praticar a felicidade.
Também é verdade que a pessoa feliz não é aquela que está sempre rindo ou demonstrando euforicamente bom-humor, mas aquela que elabora, no seu íntimo, esse estado mental, essa construção contínua – a felicidade, mesmo sujeita a momentos mais difíceis. Essa construção interna é revelada, revelando a nossa própria identidade, no convívio com os Outros.
Claro que há certas carências fundamentais, tais como saúde, moradia, alimentação, que podem afetar decididamente a construção da felicidade. São um alicerce cuja carência compromete toda a construção. Por tais necessidades, nós educadores, devemos nos empenhar e também devemos levar em conta ao pensar na felicidade dos outros, nossos educandos.
A felicidade se ensina sobretudo pelo exemplo. É que embora a felicidade seja algo que esteja constantemente elaborada em nosso íntimo, ela transpira de quem somos e se manifesta em nossas ações. Desse modo, ela chega ao Outro. E o motiva. E esse nosso estado íntimo de felicidade faz, a esse Outro, também, de algum modo, mais feliz. 
Acredito que possamos trazer para o centro das considerações educativas a reflexão sobre a felicidade. Ensinar a refletir sobre a felicidade possibilita que o educando questione suas próprias escolhas e pense e repense nos caminhos que se permite percorrer. Questionar é não acomodar-se, é caminhar. Ensinar a refletir sobre a felicidade envolve ouvir atentamente, ponderar, perguntar. Na verdade, falar pouco e ouvir muito. Ouvir, desta perspectiva, ensina.
Um questionamento importante que devemos sempre motivar é como podemos construir a felicidade no cotidiano, principalmente, depois de aprender algo novo: como esse novo conhecimento colabora em que sejamos mais felizes?
Não ensinamos a felicidade como ensinaríamos a tabuada, mas ensinamos a felicidade pela prática da felicidade em nossa vida. Podemos considerar a felicidade como uma construção do indivíduo realizada no interior de seu Eu e que se revela em ações. Essas ações contagiam saudavelmente quem está perto. O exemplo da felicidade educa e faz pensar e é bom incentivar e motivar esse refletir. O que aprendemos deve ser para a construção interior desse nosso estado de felicidade, lenta e continuamente..



EDUCAR E AS PONTES COM O OUTRO



Por aquilo que fazemos, construímos o lugar em que vivemos, transformando uma casa, por mais simples que seja, no nosso lar; uma reunião, em momento de acolhida; um encontro, em ocasião memorável de aprendizagem. Em todas essas ações, de um modo ou ou outro, surge lá, em algum momento, a presença do Outro. Na interação com ele, construímos a nossa caminhada e a nossa identidade. Atitudes, tão comuns hoje em dia, que procuram excluir o Outro, ignorá-lo ou obrigá-lo a ser quem nós desejamos que ele seja terminam por se voltar contra nós mesmos, pois dificultam a transformação dos espaços e, desse modo, dificultam também que nós sejamos nós mesmos.

1 de março de 2013

POR QUE ESTUDAR 'LÍNGUA PORTUGUESA' NA ESCOLA?



Essa pergunta parece óbvia, mas não é. O componente “Língua Portuguesa” entra na grade curricular brasileira, nos finais do século XIX, e com uma aula por semana, no último ano. Havia aulas de leitura, de retórica, de latim, mas não se sentia a necessidade de uma aula de Língua Portuguesa, porque falar português era algo considerado aprendizagem de casa.
O motivo de estudar "Língua Portuguesa" na escola mudou muito nos últimos cem anos.
 Inicialmente, a ideia é que quem fala bem, pensa bem. Ou seja, a palavra traduz o pensamento. Nessa linha de raciocínio, para pensar de modo correto, eu teria de aprender a falar de modo correto. Aí era importante o estudo de regras gramaticais e de apagar da criança qualquer coisa que pudesse significar que ela dominava a gramática, porque isso significaria que ela não conseguia pensar direito. Daí uma ideia, muito comum até hoje de português correto e errado, ou seja, aquele que nos faz pensar corretamente e aquele que revela dificuldades de raciocínio. Essa perspectiva, oficialmente, vai da origem do componente curricular até, começo da década de 70.
Principalmente a partir da década de 70, os documentos oficiais mudam o conceito de por que estudar português na escola. O motivo passa a ser a comunicação. Estudamos português para aprendermos a nos comunicarmos melhor. Ou seja, tudo o que ajudar o cidadão a se comuncar melhor, tinha que fazer parte da disciplina "Língua Portuguesa". Contudo, é também a época da ditadura, de guerra fria etc... então, comunicar-se é perigoso. Há a censura, as perseguições etc. Assim, a escola ensina as técnicas da comunicação e da expressão. A ideia é que conhecendo as técnicas, o mundo lá fora se encarregaria de ensinar a aplicá-las na prática.
A década de 90 traz os PCN e com eles a ideia de que comunicar é trabalhar com a linguagem, é um fazer com o português. Fazer o quê? Fazer tudo: comunicar-se, namorar, escrever um diário, ler um poema, comprar um carro... tudo é feito por meio da linguagem e tudo é feito exigindo diferentes usos da linguagem. Falar, escrever são modos de agir no mundo. Então, a língua portuguesa passa a ser estudada a partir da realidade em que ela é vivida e possiblitando a capacidade do estudante se adequar às diferentes realidades: falar com o presidente de uma grande empresa, com todo o uso das regras gramaticais da norma padrão, ou bater papo  informalmente numa roda de amigos.