28 de dezembro de 2012

VIVER É CONSTRUIR A PRESENÇA NO MUNDO


Viver, certamente, é mais do que estar vivo.

Permanecer vivo, transcorrer entre os outros, perdurar a existência são apenas partes de algo maior: a vida! Viver é mais e esse mais se relaciona com a construção de nossa presença no mundo.

 Dessa perspectiva, ‘viver’ é um verbo de ação, ou seja, exige uma atitude de ação. Não basta ficar parado, esperando que a vida transcorra, que se vá vivendo por nós.

Não é incomum encontrarmos pessoas que desejam uma solução mágica para a sua vida: que outros decidam como vivê-la. Ou ficam simplesmente esperando, diante do aparelho de televisão, que a vida se viva. Contudo, também não é conveniente sair por aí, agindo de qualquer modo, trilhando qualquer caminho, agindo por agir, vivendo apenas para sentir-se em uma eterna aventura.

 Em sua comunidade, no meio em que você vive, como as pessoas marcam a sua presença no mundo?

É muito comum encontrarmos pessoas usando e abusando das últimas modas e tendências ou de roupas extravagantes ou excedendo-se no alcool ou consumindo drogas ilícitas. Tudo apenas pelo desejo de se sentirem vivos. E para atender a esse desejo, não se preocupam com o caminho que escolhem.

Viver é assumir que todos nós, de um modo ou de outro, marcamos presença no mundo. Por isso, a vida que que é ação, mas que também se preocupa com o construir de sua presença do mundo faz, necessariamente, uso da reflexão. Pensa, reflete, medita e age.

E são muitas ascpessoas que têm dado passos significativos para que a sua presença no mundo seja uma construção rumo à felicidade.


23 de dezembro de 2012

A BELÉN PASTORES...

PARA REFLETIR E SENTIR-SE EM PAZ


"Os conceitos criam ídolos; só o assombro conhece"
(São Gregório de Nisa)



 Descansa em nossas mentes a capacidade de assombrar-se ante nossa própria existência.

A vida artística, seja a vida da imagem, da música, do corpo ou da palavra, mas também a vida espiritual procuram descobrir esse amanhecer de encanto submersos em nossas almas. Procuram constituir-se pontes entre quem somos na superfície e na profundidade de nós mesmos...

E, em algum momento, uma pessoa, passando na rua, olhando o outro ou sentada distraidamente intui que está vivo e é feliz. E talvez felicidade seja isso: a intuição e a certeza, irmanadas, de que estamos vivos!

 

OS GÊNEROS DO DISCURSO E A CONSTRUÇÃO DA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA

A escola deve responsabilizar-se pela tarefa de possibilitar que o aluno construa os conhecimentos sobre os gêneros discursivos mais formais e complexos, para que saiba utilizá-los adequadamente.
 
  A preocupação principal da escola deve dar-se com aqueles gêneros discursivos que não fazem parte do cotidiano do estudante, mas que são importantes para a construção de sua cidadania. Daí percebemos que não vale a pena trabalhar qualquer gênero discursivo, apenas pelo fato de que desejamos trabalhar com gêneros.

Gastar tempo ensinando o que o estudante já sabe, é perder o nosso tempo!
 
Contudo, não podemos pressupor que alguém, porque é falante de português e se comunica de modo eficiente em determinadas situações, seja capaz de dominar todos os gêneros do discurso sem um ensino sistematizado.
 
Desse modo, não basta pedir um resumo de um texto sem haver gasto tempo significativo – em qualidade e quantidade - ensinando como resumir. O mesmo poderíamos dizer para algumas gêneros discursivos empregados pela escola e para os quais pouco se investe em tempo para a aprendizagem de como funcionam tais textos em sociedade, como devem ser produzidos e como devem ser lidos: pesquisas, tomadas de notas, ensaios etc.
 
Muitas vezes, por exemplo, a comanda ‘pesquise’ utilizada pelo professor, significa algo muito longe de ‘faça uma pesquisa’, visto que o aluno não dispõe de condições nem conhecimentos sequer sobre como produzir o gênero discursivo ‘pesquisa’.
 
Cabe principalmente, mas não só, aos professores de Língua Portuguesa o trabalho sistematizado com os gêneros discursivos comuns no cotidiano, particularmente, nas momentos mais formais. O objetivo de tal atividade é que os estudantes possam sentirem-se competentes para uma prática contextualizada de leitura e produção textual e, ao mesmo tempo, estarem em condições de refletirem sobre a sua língua materna em diferentes situações de realização social.

3 de dezembro de 2012

A INTENÇÃO COMUNICATIVA (texto reeditado)


 
Que as aulas de Língua Portuguesa devem ser espaço para os textos, tomados na sua realidade discursiva, acreditamos que não haja mais dúvidas. Contudo algumas questões devem ser consideradas:

Se eu trago uma receita culinária para a minha aula de Língua Portuguesa, para a partir dela fazer algumas atividades com meus estudantes, eu posso, realmente, dizer que se trata de uma receita culinária? Ou ela se tornou um texto didático? E se é um texto didático, trata-se de um texto eficiente? Ou seja, um texto didático que não foi pensado para ser texto didático terá boa qualidade? Atingirá os seus objetivos?
Essas questões são muito importantes e nos colocam diante de algo fundamental ao pensarmos discursivamente em um texto: a intenção comunicativa.
Todo aquele que se faz uso de uma linguagem para produzir um texto, sem dúvidas, tem uma intenção comunicativa. Ou seja, ele o faz com alguma intenção e essa intenção não é apenas a de transmitir uma mensagem, passar uma informação.  O que todos nós desejamos ao produzir um texto, no nosso cotidianos, é interagir com outra(s) pessoa(s).
Em outras palavras, todo locutor tem um objetivo em mente prático ao produzir o seu texto e, quase sempre, tal objetivo se relaciona com alguma ação a ser realizada. Esse objetivo leva o locutor a certas escolhas. Uma das primeiras é o próprio gênero de discurso empregado. Isso porque o próprio locutor não pode dispor da língua como quer, mas ele mesmo está sujeito a regras e convenções. Uma receita culinária somente tem sentido de existir se houver pessoas interessadas em aprender a cozinhar. Na sua origem, as receitas culinárias não foram feitas para serem usadas em sala de aula ou para que se adivinhe o futuro...
Toda palavra, falada ou escrita, faz parte de um movimento maior dos seres humanos em torno de uma ação social. Por meio das palavras, uma intenção pessoal pode se tornar social.
Vejamos ainda outro exemplo, uma bula de remédios. Ela pode ser lida a qualquer momento e pelos mais variados motivos. Ainda que a maioria considerasse absurdo, somos livres até para ler uma bula de remédios antes de dormir, para relaxar enquanto o sono não vem. Mas, sabemos que a intenção comunicativa de uma bula de remédios é outra. O objetivo de uma bula de remédios existir na sociedade não é para que relaxemos antes de dormir, mas para que conheçamos adequadamente o remédio e saibamos como usá-lo. O conhecimento e a aplicação das informações da bula de remédios pode significar o restabelecimento da saúde.
Assim, alguém pode até ler uma bula de remédio para se distrair ou utilizar uma receita culinária para elaborar um exercício escolar, contudo essas não são as intenções comunicativas de tais textos. É um uso para esses gêneros, mas não atende às suas intenções comunicativas. Isso cria um desafio, de fato, para trabalharmos os gêneros discursivos em sala de aula.
Todo gênero discursivo deve levar em conta a realidade social que lhe deu origem. Segundo Mikhail Bakhtin:
“Um traço essencial (constitutivo) do enunciado é seu direcionamento a alguém, o seu endereçamento. À diferença das unidades significativas da língua – palavras e orações –, que são impessoais, de ninguém e a ninguém estão endereçadas, o enunciado tem autor (...) e destinatário. Esse destinatário pode ser um participante –interlocutor direto do diálogo cotidiano, pode ser uma coletividade diferenciada de especialistas de algum campo especial da comunicação cultural, pode ser um público mais ou menos diferenciado, um povo, os contemporâneos, os correligionários, os adversários e inimigos, o subordinado, o chefe, um inferior, um superior, uma pessoa íntima, um estranho, etc.; ele também pode ser um outro totalmente indefinido, não concretizado (em toda sorte de enunciados monológicos de tipo emocional). Todas essas modalidades e concepções do destinatário são determinadas pelo campo da atividade humana e da vida a que tal enunciado se refere. A quem se destina o enunciado, como o falante (ou o que escreve) percebe e representa para si os destinatários, qual e a força e a influência deles no enunciado – disto dependem tanto a composição, quanto, particularmente, o estilo do enunciado. Cada gênero do discurso em cada campo da comunicação discursiva tem a sua concepção típica de destinatário que o determina como gênero. ”
(BAKHTIN, Mikhail.  Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p 301)
 
O primeiro e, sem dúvidas, um dos maiores desafios de quem produz um texto é reconhecer a realidade desse destinatário presente em todo texto, antes mesmo de começar a produzi-lo ou quando o estamos lendo.
Quando vamos escrever ou falar, devemos pensar em como o locutário cooperar com a intenção comunicativa do texto produzido.
Já quando vamos ler ou ouvir, devemos compreender que relação estabelecemos nós – como realidade social – com o destinatário que se desenha naquele texto.
 
Aqui temos, de imediato, um importante conteúdo para as nossas aulas de Língua Portuguesa. Ou seja, como auxiliar o locutário – aquele que nos escuta ou lê – a colaborar nos processos de interpretação de acordo com a intenção comunicativa que presente nesse mesmo texto? Como encontrar as distâncias entre quem somos e o leitor visado pelo texto lido?
Como nos lembra o estudioso italiano Umberto Eco:
 
entre a intenção do autor (muito difícil de descobrir e frequentemente irrelevante para a interpretação de um texto) e a intenção do intérprete que (...) simplesmente ‘desbasta o texto até chegar a uma forma que sirva a seu propósito’ existe uma terceira possibilidade. Existe a intenção do texto”
(ECO, Umberto. Interpretação e Superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 29)
Ah, se pudéssemos saber o que o texto diz sem termos que lê-lo! Essa atitude é comum em qualquer um de nós como locutários e conduz a uma pergunta em todo processo de produção textual: Como vencer qualquer resistência, má vontade e preguiça natural em um leitor diante de um texto? Como fazê-lo colaborar com a intenção comunicativa desse texto?
Sem essa importante colaboração, o locutário poderá não interpretar adequadamente, não participando adequadamente nas ações que sustentam a própria existência do texto que leu. Ele vai ler, mas não vai interpretar adequadamente, nem agir de acordo.
 
Mas por que o locutário não atenderia à intenção comunicativa do texto que lê? Isso pode acontecer porque aquele que assume o papel de locutário não sabe (ou não deseja) realizar o trabalho de envolvimento com o texto necessário para interpretá-lo.
 
O primeiro passo é compreender bem – da perspectiva linguística e social – o gênero discursivo do qual esse texto é um exemplar. Como nos lembra Mikhail Bakhtin:
 
“Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário), refletimos de modo mais flexível e sutil a situação singular da comunicação; em suma, realizamos de modo mais acabado o nosso livre projeto de discurso.”
(BAKHTIN, Mikhail.  Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p 285)
Assim, é muito importante considerarmos a interpretação de um texto como um conteúdo complexo nas aulas de língua portuguesa, estratégias  que se aprendem gradativamente, e que passam necessariamente por identificar a intenção comunicativa.
Para identificar tal intenção, algumas perguntas podem ajudar:
·         Para que serve esse texto (como exemplar de um determinado gênero discursivo) na sociedade?
·         A que ações sociais podemos relacionar este texto? Por quê?
·         O que esse texto revela sobre o locutor? E sobre a situação em que foi produzido?
·         O que o texto espera que eu faça depois de ler esse texto?
Essa última pergunta é pertinente: nem sempre o texto espera que o leitor faça a mesma coisa que o professor. Por exemplo, voltemos à receita culinária levada para sala de aula: o texto espera que o aluno a siga, a experimente, mas nem sempre será isso o que professor espera!
Ao compreendermos a intenção comunicativa de um texto, podemos também escolher até que ponto desejamos participar no processo comunicativo que ele propõe. Isto é, adequando  o que lemos às nossas necessidades, possibilidades, desejos etc.
A escola, como instituição, no entanto, tem sido muito eficiente em 'matar' as intenções comunicativas dos textos. E isso em todos os componentes curriculares. A escola faz isso, principalmente, de duas maneiras:
 
(1)  por reduzir os textos a intenções distorcidas daquelas que os originaram
(2)  por ignorar o processo social que deu origem a tais textos e que pode, muitas vezes, ser resgatado no próprio texto.
 
Naturalmente, a dificuldade diante da intenção comunicativa de um texto, a partir do gênero discursivo a que esse pertence, não se dá apenas no ato de recepção. No próprio momento de produção podemos encontrarmo-nos em uma situação de desejarmos que um determinado gênero discursivo cumpra uma função que não lhe cabe.  Um exemplo descabido: O que pensaríamos de alguém que deseja cobrar uma dívida utilizando-se não de uma nota promissória, mas de uma receita culinária? Sim, isso é não respeitar a intenção comunicativa do gênero discursivo receita culinária.
Mas o que pensar de enunciados escolares descontextualizados da realidade que deu origem ao texto e que vão ficando famosos na prática escolar: "Sublinhe os adjetivos no texto a seguir" ou "No texto aparece o termo 'reação bioquímica'. Defina-o.”?