30 de junho de 2010

SOBRE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS...

O professor Antoni Zabala (1998: 18) defende que as pensar na configuração das sequências de atividades ou sequencias didáticas (ele usa os dois termos como sinônimos) é um dos caminhos mais acertados para melhorar a prática educativa. O mesmo professor define essas sequências de atividades como


“um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm como um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”. (ZABALA, 1998:18).

Seguindo essa linha de raciocínio, podemos esboçar, em traços gerais, a estrutura de uma situação de aprendizagem que possibilite construir os processos sociais de ensino-aprendizagem. Nesse processo proponho a seguinte organização:

1) Momento de problematização: esse é o momento de questionar, de fomentar dúvidas, de conhecer o pensamento do outro, de saber de onde se irá partir e esboçar antecipações sobre para onde chegaremos. Em grande parte dos casos, como ao analisar um filme, basta uma pergunta que motive um questionamento ou comentar uma música (ou, até, simplesmente, um trecho dessa música). Importante, contudo, que essa pergunta tenha uma relação direta com a realidade em que esse educando está inserido, aproxime o seu mundo daquele que será estudado.

2) Foco forte da consideração: no caso de um filme, na maior parte das vezes, vale mais a pena exibir apenas trechos selecionados. O importante é não deixar que se perca o foco fornecido pelo momento de problematização. Se as crianças e jovens não entenderem os motivos pelos quais estão assistindo àquele filme (e não a outro) ou os esquecerem durante esse processo, há grandes possibilidades do processo se perder.

No caso de um filme, sinta-se à vontade de parar de vez em quando a exibição a fim de ressaltar um ponto importante que tenha uma relação direta ao momento de problematização proposto inicialmente. Faça uso de perguntas e ouça as respostas com atenção.

3) Síntese: Ao final da atividade, é importante que os educandos sintetizem tanto a atividade como aquilo que aprenderam. Esse momento antecipa o que vem a seguir.
4) Reflexão: o momento de síntese não permite muita criatividade: trata-se de resumir o que aconteceu. O momento de reflexão, contudo, permite que se façam as mais variadas relações que vão da opinião pessoal sobre o processo até sugestões para as próximas atividades. Vejamos, agora, como exemplo, algumas das muitas perguntas que podem ser feitas:

• O que você aprendeu tão bem nesta atividade que consegue explicar sem dificuldades para um colega?

• Que assuntos não ficaram claros? Que temas você gostaria que voltassem a ser estudados melhor por não terem sido devidamente compreendidos?

• Como você pode melhorar a sua participação no grupo?

5) Transposição: O aprendizado construído deve agora ser aplicado a uma situação diferente daquelas que serviram de problematização e/ou de foco forte até aqui. Essa nova situação, contudo, deve manter elementos comuns suficientes para que as crianças e jovens, de acordo com o seu grau de maturidade, possa estabelecer as relações adequadas.

Outro filme? Se você trabalhou com um filme até agora, em algum momento, desta sequencia didática, talvez seja a vez de pensar em um jogo teatral ou em uma dinâmica de grupo e assim por diante.

Retome o questionamento presente no primeiro momento. Permita que os educandos percebam, eles mesmos, o quanto avançaram nessa sequencia didática.



ZABALA, Antoni. A prática educativo: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

18 de junho de 2010


18 de junho de 2010: Estamos todos muito mais pobres. 

José Saramgo morreu

9 de junho de 2010

DO PRÉ-LEITOR AO LEITOR: O PROCESSO ESCOLAR

Este breve artigo pretende auxiliar ao professor a trabalhar, nas aulas de Língua Portuguesa, a formação de um leitor. Objetiva-se auxiliar ao professor no seu paciente trabalho de análise e seleção de que literatura levar para classe, despertando o prazer de ler.


Ler e alfabetizar não são necessariamente a mesma coisa. A leitura deve começar antes mesmo da alfabetização, utilizando-se como primeiro instrumento do livro sem palavras. Por se tratar de histórias que não exigem o código verbal escrito, a criança pode, por meio de recursos visuais, atribuir sentidos nesse espaço vivo que é o texto e criar a sua própria leitura. Tais livros servem também como ponto de partida para alunos, que alfabetizados, não gostam de ler.

Para tanto, é preciso lembrar que literatura não é principalmente pedagogia e que sua principal intenção reside em proporcionar prazer. Por prazer entendemos, como nos diz o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “sensação ou sentimento agradável, harmonioso, que atende a uma inclinação vital”. Inclinação vital... Sentir a necessidade do livro para que a vida seja, efetivamente, vida. O professor deve, de forma lúdica, propor alternativas de leituras, releituras, discussões. Procurando contrapontos com outros textos, deve estabelecer ligações entre o novo e o que já é conhecido pela criança. O novo é sempre descoberta, e atrai pela inata curiosidade infantil. O conhecido representa a segurança do caminho já percorrido e que sabemos aonde nos conduz. Do equilíbrio entre os dois a criança se descobre capaz de ser leitora, criando pontes entre os diversos mundos que a rodeiam. Nesta fase, torna-se de fundamental importância apenas a sensibilização, sem cobranças ou avaliações de qualquer espécie. Afinal, ler é, em si mesmo, uma atividade.

Aos poucos, o aluno está preparado para receber a força mágica da palavra. Sente-se à vontade com os livros e demonstra prazer de leitura. Este contato ainda estará sob o atento cuidado com as ilustrações, no sentido de reforçar o que está sendo dito. A ilustração pode até mesmo possibilitar novas e diferentes maneiras de ir além do texto, recriando-o e dando asas à imaginação.

São importantes recursos lingüísticos que auxiliam tanto na alfabetização, como na leiturização, as diferentes explorações sonoras da palavra dentro do texto, como a rima, a sonoridade e a repetição. O tema tem que despertar o interesse por estar de acordo com a realidade da criança, isto é, a visão de mundo que ela possui até o momento da leitura. Certos aspectos gráficos não podem ser desconsiderados: as letras grandes, o texto curto e o grau de complexidade de compreensão, simples.

À medida que a leitura vai evoluindo, o plano gráfico vai se alterando, e as letras passam a ter um tamanho menor, as ilustrações vão deixando de assumir um papel centralizador dentro da obra. Os períodos podem ser mais elaborados e o texto tende a, naturalmente, alargar-se. O tema já não se limita apenas ao universo da criança, mas projeta-a para o mundo que a cerca, estimulando-lhe que desenvolva o senso crítico.

O aluno é livre para escolher os títulos, mas estes, por sua vez, foram selecionados e analisados previamente pelo professor. Este devera usar de muito bom senso para observar que visão de mundo o autor transmite, evitando assim que o pequeno leitor entre em contato com obras de valor literário duvidoso.

Vale lembra que cada criança tem a sua maturação em etapas e épocas distintas. A leitura permite novas concepções da vida. A cada novo livro, novas reflexões, que aliadas ao pleno domínio da linguagem, tornar-se-ão instrumentos indispensáveis ao exercício da cidadania.