19 de junho de 2013

CAMINHANDO PELAS CIDADES – MANIFESTAÇÕES NO BRASIL

As pessoas estão insatisfeitas no Brasil. Há muito tempo. Todos nós sabemos bem que as coisas não andam bem, mas como andam, não paramos. Seguimos. E outros seguem na frente, supostamente, guiando-nos. Tão ou mais perdidos do que nós mesmos, eles parecem apenas desejar uma coisa: perpetuar-se no poder. Então a manifestação vai tomando conta das ruas. Lentamente. Agradece-se a colaboração que a PM de São Paulo, na quinta-feira fatídica do dia 13 de junho deu ao movimento. As pessoas sentiram-se revoltadas com o que viram e ouviram. Uma boa parte da imprensa, até então subserviente ao que consideravam poder, sentiu-se ofendida. Resolveu participar na formação da opinião pública. Esse é, afinal, também o seu papel. Até políticos e artistas tentaram carona nessa cauda de foguete. 
O Movimento pelo Passe Livre defende a redução da tarifa. Apenas. Uma pena tão pequenas ambições em rostos tão cheios de promessas. O povo começa a quere mais. Quer respeito. O jeitinho brasileiro foi a característica escolhida pelos governantes para construir o modelo de Brasil. Somos o país que deu certo roubando, incentivando a corrupção, a injustiça social e, principalmente, a maquiagem social. Fazemos tão bem a maquiagem social que, nós mesmos, maquiadores, acreditamos nela. Acreditamos? No fundo não, mas não podemos parar. Temos de seguir caminhando. Rumo a nós mesmos. A opinião pública começou a ver-se nas manifestações não pelos vinte centavos, mas pela sua própria dignidade. Por que sabemos bem que o ‘jeitinho brasileiro’ não é, realmente, a nossa essência, mas é máscara de nós mesmos. 
Da nossa herança colonial, aprendemos a representar o que não somos a partir do que, efetivamente, somos. Essa lição aqueles do poder não a aprenderam. Ou não a desejaram aprender. No fundo, sabemos que ser o país do ‘jeitinho brasileiro’ é ruim para nós mesmos. Furar a fila, enganar o vizinho, roubar no troco etc etc etc são práticas comuns, mas gostaríamos, no fundo, que não o fossem. Quando o governo escolhe, contudo, a via do ‘jeitinho brasileiro’ como modo de governar, ensina-nos que não temos escolha a não ser a resignação. Temos de resignarmo-nos a ser aqueles que não são, mas que fingem ser. 
Não é Dilma que dá o bolsa família de R$80,00. Sou eu, é você, somos todos nós com o nosso suor sagrado que se deposita nos cofres públicos por meio dos impostos . Não é o Alckmin que faz o metrô de São Paulo. Sou eu, é você, somos todos nós que vamos trabalhar diariamente apesar das notícias cada vez mais catastróficas de assaltos, superlotações nos meios de transporte e engarrafamentos quilométricos. E o metrô atrasa e as construtoras se enriquecem cada vez mais. E o bolsa família se transforma em um bolsa esmola que não ensina nunca a pescar, apenas dá o peixe e dá votos no toma-lá-dá-cá. E tudo bem, para tudo damos um jeitinho... Mas estamos cansados, não estamos? 
Então o povo vai às ruas. “Não são só vinte centavos”. Mesmo que o MPL não o queira. Não o são. É a nossa própria identidade em causa. Não é apenas a educação, a saúde, os transportes, a habitação e, principalmente, a corrupção. É a nossa identidade. Somos quem nos disseram que somos: o país da festa e do futebol que prefere ter estádios a decência e dignidade? O país que se contenta com as migalhas de R$80,00 e assiste, assombrado, ao circo e ao pão sendo distribuído enquanto os grandes vão à ópera e aos lautos jantares? O povo vai às ruas. Eu alimento a esperança de que essa seja uma resposta pela própria identidade popular. 
Há os baderneiros. Há os que não sabem protestar. Há os infiltrados. Há os filtrados. Há o povo sozinho caminhando acompanhado de si mesmo e de quem deseja ser. Desejar ser já é uma forma de ser, não é mesmo? Então os governantes se assombram. Querem tirar partido desse movimento. Querem transformá-lo em porta para o jeitinho brasileiro. Há o medo. Há o cansaço. Há a clara percepção de que não se pode tratar uma Copa do Mundo melhor do que se trata o doente e o estudante e há uma percepção mais clara ainda de que essa Copa se torna a desculpa perfeita para a corrupção. Há a percepção de que roubar virou algo lícito, desde que não se seja pego. E se for pego, desde que se seja rico e influente o suficiente. E não é esse o Brasil que desejamos. O brasil das máscaras, do oba-oba, do jeitinho. 
Então o povo vai às ruas. Ainda nem bem sem saber o porquê. Vai sozinho, atendendo a um chamado com o qual não concorda completamente, de uma redução de vinte centavos. Vai para mostrar que não está feliz. Vai para sonhar e transformar sonhos em realidades. Sonhos são sempre os liames entre o delírio e a esperança. O que virá a seguir?

7 de junho de 2013

INTERPRETAR UMA OBRA DE ARTE - PARTE 1


Interpretar uma obra de arte envolve o conhecimento do estilo de uma época e das técnicas empregadas, mas... Há sempre um mas. O mais importante é descobrir na obra a tensão entre a realidade do mundo e a contemplação que o artista fez dessa realidade.
Essa contemplação certamente envolveu um olhar que pensou e sentiu o mundo e que, depois, o recortou. Nesse recorte o artista procurou encontrar as estruturas profundas, compostas por poucos elementos que se repetem e formam padrões na obra de arte.
A tensão entre mundo e arte será tão mais complexa quanto intensa for a proposta semiótica (ou seja, crítica) da obra.