31 de março de 2009

O PAPEL DOS PAIS E DOS FILHOS NO VESTIBULAR 2010


As mudanças no vestibular no estado de São Paulo, divulgadas pela mídia, preocupam estudantes e pais. Essas preocupações são razoáveis, contudo é bom lembrar que tais mudanças são benéficas, pois atendem a necessidades mais complexas do conceito de Educação e que questionam o papel da escola e das avaliações no processo de formação do aluno. Em termos práticos, o que se deseja, mudando o vestibular, é valorizar o perfil do futuro universitário. Passa-se, dessa maneira, da importância dada à quantidade de conteúdos aprendidos para a capacidade de aprender que o candidato desenvolveu no processo de escolarização.

Isso não significa, porém, que o vestibular ‘fica mais fácil’ ou que ‘agora passa qualquer um’. Ao contrário, a mudança de foco permite valorizar ainda mais a escola como espaço de construção de habilidades, conhecimentos e valores que serão úteis no presente e no futuro. Possibilita também que a escola possa dedicar-se à formação do futuro acadêmico e não a formação de um mero ‘acertador de questões’. A diferença entre um perfil e outro é substancial.

São duas as principais mudanças nos vestibulares. A primeira refere-se a certa uniformização formal nos principais vestibulares públicos do estado, que passam a ser constituídos em duas fases: a primeira, com questões de múltipla escolha e a segunda, com questões discursivas e redação. Além disso, os conhecimentos de todas as disciplinas escolares passam a ser cobrados dos candidatos.

A segunda mudança é mais conceitual: as disciplinas perdem força na construção da prova frente às áreas. Em outras palavras, isso significa dizer que “Linguagens, Códigos e Suas tecnologias”, “Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias” e “Ciências Humanas e Suas Tecnologias” são vistas como espaços mais importantes para questionar os alunos do que as disciplinas que as constituem, tais como Língua Portuguesa, Matemática ou Geografia, por exemplo. Desse modo, abre-se o caminho para a interdisciplinaridade na construção do vestibular, prática que não chega a ser de todo nova, pois encontra no vestibular da UnB (Universidade de Brasília) e no ENEM importantes precursores.

A dúvida é saber até que ponto essas mudanças serão praticadas já desde o primeiro momento. Até que ponto já temos ‘elaboradores de questões’ suficientemente preparados para construir questões com tal perspectiva filosófica. Nesse caso, nada mais resta do que torcer, preparar-se e aguardar.

Preparação para o vestibular, contudo, não precisa ser uma atividade restrita aos vestibulandos. Pode converter-se em parte do projeto familiar. Os pais precisam, acima de tudo, demonstrar ao longo do processo de escolarização uma atitude de confiança na capacidade de aprendizado de seus filhos. Essa atitude deve ficar muito mais forte ao passo que se aproxima o momento do vestibular.

Além disso, é importante que assumam regras justas, ainda que duras, que dêem conta de horários para refeições, horários para estudo e horários para descanso e lazer. É muito importante, em nenhum caso, cair em extremismos que apenas complicam o processo. Cuidar para que haja um lugar tranqüilo, bem-iluminado e confortável para a atividade de estudo é outra responsabilidade que os pais podem tomar para si. Além disso, os pais podem e devem tomar para si o projeto de fazer da leitura da famosa lista dos livros do vestibular parte da leitura em família. Lendo os mesmos textos que seus filhos podem tornar-se importantes interlocutores, além de incentivar a atitude adequada do futuro candidato. O mesmo poderíamos dizer da leitura de jornais e revistas: ler e comentar com seus filhos as atualidades presentes na mídia pode ser não apenas um momento de aprendizado, como em uma ocasião para fortalecer a conexão familiar.

9 de março de 2009

A PALAVRA VIVA NA AULA DE PORTUGUÊS


Em nosso cotidiano, utilizar a prática discursiva, decididamente, não é uma ação neutra. Usar a palavra participa no processo de (re-)produzir identidades e relações sociais, constrói e organiza os sistemas de conhecimento e crenças. Ao mesmo tempo, a palavra transforma a sociedade, criando o que ainda não existia e apresentando-se, desse modo, como possibilidade de renovação.

Tomemos como exemplo as relações identitárias entre educadores e educandos: elas estão sujeitas a regras e padrões específicos próprios desse sistema. Por relações identitárias entendemos aquelas relações entre indivíduos que lhes permitem construir as suas identidades. Por exemplo, o professor se constitui professor na relação com os seus alunos e com outros agentes do sistema educativo, tais como o diretor e o coordenador. Um professor sem alunos e sem outros agentes importantes no processo educativo, não é um professor. Desse ponto de vista, o indivíduo necessita do outro para se constituir como identidade psico-social.

Essas relações seguem regras muito específicas que fazem interagir dimensões socias e subjetivas do sujeito. Essas regras podem, em parte, transformar-se a partir do poder do próprio discurso: a fala em sala de aula, na sala dos professores, no debate educacional etc. muda a visão do outro e de si mesmo.

Pensar o discurso com parte da realidade social em que vivemos é um desafio para a escola que tem pensado o ensino de Língua Portuguesa a partir de uma perspectiva dicotomizada entre o certo e o errado, o bem e o mal falar: O que desejamos dela preservar de nossas identidades quando fazemos uso da palavra e por quê? O que gostaríamos de mudar e por quê? Como a linguagem permite isso?

É importante que a relação entre linguagem e estrutura social seja considerada sempre a partir de uma profunda reflexão e diálogo para evitar erros indevidos de ênfase e de simplificação alienadora. Em nenhum momento se fala de excluir a importância das regras e normas para o bem-falar. O que muda é o conceito do que é falar bem, visto agora em uma dinâmica social e dialógica. Todas as palavras que constituem a linguagem são vozes, ao mesmo tempo, sociais e históricas que carregam consigo memórias, usos, tradições etc. que transformam qualquer texto em uma realidade aberta à ‘conversa’ infinita com outros textos.