Em nosso cotidiano, utilizar a prática discursiva, decididamente, não é uma ação neutra. Usar a palavra participa no processo de (re-)produzir identidades e relações sociais, constrói e organiza os sistemas de conhecimento e crenças. Ao mesmo tempo, a palavra transforma a sociedade, criando o que ainda não existia e apresentando-se, desse modo, como possibilidade de renovação.
Tomemos como exemplo as relações identitárias entre educadores e educandos: elas estão sujeitas a regras e padrões específicos próprios desse sistema. Por relações identitárias entendemos aquelas relações entre indivíduos que lhes permitem construir as suas identidades. Por exemplo, o professor se constitui professor na relação com os seus alunos e com outros agentes do sistema educativo, tais como o diretor e o coordenador. Um professor sem alunos e sem outros agentes importantes no processo educativo, não é um professor. Desse ponto de vista, o indivíduo necessita do outro para se constituir como identidade psico-social.
Essas relações seguem regras muito específicas que fazem interagir dimensões socias e subjetivas do sujeito. Essas regras podem, em parte, transformar-se a partir do poder do próprio discurso: a fala em sala de aula, na sala dos professores, no debate educacional etc. muda a visão do outro e de si mesmo.
Pensar o discurso com parte da realidade social em que vivemos é um desafio para a escola que tem pensado o ensino de Língua Portuguesa a partir de uma perspectiva dicotomizada entre o certo e o errado, o bem e o mal falar: O que desejamos dela preservar de nossas identidades quando fazemos uso da palavra e por quê? O que gostaríamos de mudar e por quê? Como a linguagem permite isso?
É importante que a relação entre linguagem e estrutura social seja considerada sempre a partir de uma profunda reflexão e diálogo para evitar erros indevidos de ênfase e de simplificação alienadora. Em nenhum momento se fala de excluir a importância das regras e normas para o bem-falar. O que muda é o conceito do que é falar bem, visto agora em uma dinâmica social e dialógica. Todas as palavras que constituem a linguagem são vozes, ao mesmo tempo, sociais e históricas que carregam consigo memórias, usos, tradições etc. que transformam qualquer texto em uma realidade aberta à ‘conversa’ infinita com outros textos.
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