Um fenômeno relativamente recente do qual vale a pena falar é a relação entre o desenvolvimento das tribos urbanas e a internet.
Observando, por exemplo, uma rede virtual de relacionamento, como o Orkut, é possível notar como se desenvolvem processos de distinção e controle social. Ao "teclar" com seus pares, nem sempre o nome é revelado, sendo antes substituído por um apelido (um ‘nickname’ ou apenas ‘nick’). Nesses encontros virtuais, pode-se escolher a classe social, a idade, a aparência física e, até mesmo, o sexo que se deseja. Na tela do receptor da mensagem, o que se vê é uma identidade (ou múltiplas identidades) construída a partir de representações. É possível ser, ou fingir ser, sem aparecer e embora não se consiga fugir completamente de eventuais sanções sociais, a liberdade parece ilimitada.
Antony Giddens atribui à globalização e à disseminação da mídia eletrônica, entre outros elementos, a possibilidade do indivíduo realizar um grande número de "escolhas". Entre elas, destaca-se a escolha por um "estilo de vida". Nas comunidades da internet, certas práticas, como a anorexia e a bulimia passa de prática solitária a prática solidária divulgada e compartilhada.
Naturalmente, não podemos fugir dos meios de comunicação. Nem proibi-los. Mas podemos, educadores e educandos, construir regras de utilização. É sempre bom discutir os riscos do mau uso dos meios de comunicação com as crianças e jovens e, juntos, procurar estabelecer regras coerentes e justas de utilização.
Nunca é demais valorizar o ser humano, em especial, nas relações pessoais. Isso significa cultivar uma constante atitude de presentificação do outro. Entendemos 'presentificação' como o processo complexo que envolve tanto tornar o outro uma realidade presente em nossa vida, legitimando o direito à sua alteridade, como fazermo-nos presentes na vida dos outros.
Repassar e-mails a torto e a direito, por exemplo, por vezes, pode traduzir uma falta de consideração pelos outros, como se todos fossem a mesma coisa. Como se o outro não fosse 'um' outro, mas apenas 'mais um'. Em especial, as crianças e os adolescentes são muito sensíveis à valorização de suas opiniões e pensamentos. Isso, claro, não significa acatar tudo o que dizem, mas promover a atitude correta de ser ouvido.
Veja, por exemplo, a apresentação de uma comunidade de Orkut “Anoréxicas Anônimas”, dedicada a promover a aproximação entre as anoréxicas:
RESUMINDO, PENSE 300x antes de revelar ao mundo (falar pra mãe = falar pro mundo, ja viu mãe guardar segredo qdo a filha pede? vcs viram as costas e elas catam o telefone pra chorar as pitangas com a tia/amiga/massagista, se bobear vão contar até pro cabelereiro e pra manicure) que vc é ana / mia. (...) o mundo é hipócrita, injusto e cheio de gente invejosa, que não consegue emagrecer e que vc fique muito gorda, pq ai começam outra rodada pra falar mal de vc."
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=36259868
É sabido que muitos procuram na internet a estabilidade que não encontram no grupo social em que estão inseridos. Sentindo-se seguros, as crianças e jovens não se sentirão tão motivados a procurarem na virtualidade aquilo que podem encontrar no contato humano face-a-face.
Naturalmente, uma reação paternalista ou simplista não irá resolver nada, mas a atitude mental correta associada a ações adequadas a cada caso, promoverá um ambiente preventivo correto e poderá resolver muitos problemas.
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