O ENEM apresenta-se, nesta atual versão, como um gigante. E como todo gigante, deve tomar cuidado para proteger-se. "Quanto mais alto, maior a queda" diz o ditado. Ainda mais considerando o nosso fazer social que sempre se pensa enquanto se vai fazendo: há sempre pouco planejamento e estudo. Usualmente, muita discussão posterior e algumas mudanças, principalmente, para driblar problemas óbvios. Com frequência, depois que eles já causaram algum estrago. Entendam bem que ter consciência de uma realidade não significa ser contra ela. Ao contrário, o conhecimento liberta-nos de uma mentalidade romântica e infantil que simplifica os processos.
A primeira versão foi desanimadora. O exame foi roubado. Pelo menos, essa é a versão oficial do acontecido. De qualquer maneira, revela a inexperiência de todos os envolvidos. A segunda versão chegou sem o impacto tão esperado. Curiosamente, a maior mudança entre as duas versões passou por alto para alguns: as habilidades tornaram-se questões de modos bem diferentes nas duas versões. Uma mudança de estilo e de conceito ao se concretizarem as habilidades em itens. Isso é sério.
A segunda versão transformou algumas das habilidades em questões de interpretação de texto sobre os temas propostos nas habilidades. Comparada com a primeira versão, a segunda revela-se mais própria de um exame de seleção. Talvez seja o caso de se reverem as próprias habilidades, o que efetivamente se espera delas ao se pensar não em objetivos didáticos para o Ensino Médio, mas em um exame de seleção e classificação visando a substituir o vestibular.
Essa reflexão nos conduz à questão dos conteúdos. Há um grande avanço ao ampliar os horizontes do estudo da língua portuguesa para além das regras gramaticais, da análise morfossintática e da história da literatura. Com o foco na formação de leitores e produtores de textos, em diferentes esferas de atividades sociais, a escola deve mudar a sua maneira de construir a aula de Língua Portuguesa. Nesse sentido, o ENEM vai em muito bom caminho. Contudo, vale considerar que um texto por item pode se tornar um peso desnecessário ao candidato. Além disso, as habilidades de reflexão linguística podem ser ampladas para além do foco na argumentação. Sem dúvida, um espaço vital para a construção da identidade do cidadão, mas com a importância que recebeu no ENEM periga tornar-se em espaço único. Pode-se também pensar em unir melhor os conhecimentos do campo morfossintático ao discursivo-textual. Essa interação revela-se em diferentes habilidades importantes para o leitor e produtor de textos autônomos.
Vai em bom caminho este nosso gigante ENEM. Se for humilde e vir que pode melhorar ainda muito mais - como todos nós e como todo projeto de um modo geral - poderá caminhar ainda de modo mais vigoroso e definitivo.
Landeira!!
ResponderExcluirParabéns pelo Blog e a qualidade dos textos.
Abs,
Maurício Canuto