31 de outubro de 2011

A AULA COMO TEXTO E O TEXTO NA AULA: PROCESSO E PRODUTO

A leitura deste texto permitirá responder:


• O que é texto? Por que precisamos desse conhecimento ao elaborar um plano?
• Como a didática do texto deve pensar a realidade do aluno?
• Como se desenvolve a aprendizagem de produção e leitura de textos?



O texto, verbal ou não, é uma unidade de sentido, ou seja, é percebido por quem o produz (e deve ser percebido por quem o recebe) como algo que é UM. Essa é a primeira e a essencial condição: todo texto deve nos remeter a uma sensação de unidade plural, ou seja, composta por diferentes elementos (palavras, frases, parágrafos, opiniões, informações, cores, formas, sons, gestos etc).


Esse todo formado pela pluralidade é maior que a soma de suas partes. Elas se combinam e se articulam de tal modo a construir algo a mais para além de si mesmas. Assim como um grupo unido é mais do que apenas um conjunto de indivíduos. No cotidiano, o professor nota bem isso ao lidar com turmas novas ou aquelas que já se constituíram há muito tempo.


As partes do texto aparecem de diferentes maneiras na engenharia de sua construção. Neste momento, interessa-nos saber que todo texto é constituído por outros textos e ações humanas, sendo resultado de um ato que mobiliza esses outros textos e ações constitutivos e remetendo a textos e ações futuros.


Um texto que particularmente nos interessa, como educadores, é o texto da aula. Uma aula é um texto? Sim, pois ela é uma unidade de sentido composta por diferentes palavras e ações, mas que, de modo muito frequente, constroem nos professores e nos alunos a sensação de unidade, de que ocorreu uma aula só (mesmo quando dupla!) e não duas ou mais coisas. Aliás, quando o estudante tem a sensação de fragmentação, de pedaços que não se colam, ele tem dificuldade de interagir nessa aula e, portanto, de construir o conhecimento.


Assim, como professor, minha primeira preocupação ao pensar em ‘trabalhar o texto em sala de aula’ é pensar na construção do texto “aula”, texto que composto por diferentes textos e ações humanas, mobiliza tempos (passado e futuro) e pessoas (o outro).


Como ‘o outro’ aparece no meu texto e/ou na minha aula? Citado diretamente, por exemplo. Como quando o professor, ao compor o texto de sua aula, recorre a diferentes outros, no qual se destacam, o livro didático, as opiniões que confirmam determinados saberes e, de modo particular, a voz do educando. Pensar no texto da aula é pensar de que modo a voz do educando participar na construção desse texto.


Só agimos e somos como indivíduos situados em um contexto histórico e social em uma relação de contraste com ações de outros sujeitos. O confronto entre eu/tu define quem eu sou e o que eu faço (o que inclui os textos que produzo).


“Enunciar ‘a verdade’ pressupõe a possibilidade de haver alguma outra ‘verdade’, assim como a negação pressupõe uma afirmação” (PAULA, L. e STAFUZZA, G. (orgs). Círculo de Bakhtin: teoria inclassificável. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2010, p. 68).


O texto deve ser visto como um produto que supõe o processo de produção e, ao mesmo tempo, como processo que leva em conta o produto resultante.


Todo texto que aparece em aula e toda aula que se constitui como texto surge da interação entre indivíduos e destes com um determinado tema (o tópico do discurso), vinculado com os pressupostos e subentendidos (que facilitam a compreensão, como criam mal-entendidos) e as avaliações psicossociais (do eu e do outro) em constante conflito.


O que isso exige?


a) conhecimento do tema

b) capacidade de avaliar a unidade de sentido: a avaliação unifica os atos – e, portanto, o texto produzido. O indivíduo, situado em um contexto histórico e social, avalia suas atividades (incluindo o texto produzido) no âmbito da generalidade e em uma situação concreta, específica, de decisão e ação. A avaliação do texto está presente em quem produz o texto e em quem o recebe. Portanto, no espaço da aula, é uma atividade constante de professores e alunos. Naturalmente, não estamos aqui falando da avaliação notificada, mas do processo constante de avaliar um texto que participa na sua produção.

c) construção do conhecimento específico.

d) construção do conhecimento da generalidade.

e) construção de situações concretas que possibilitem a avaliação.

f) readequação das avaliações feitas.

g) articular as diferentes partes tendo em vista três elementos: quem produz o texto, quem o irá receber e a coletividade (configurada, por vezes, por meio de representantes).

h) velar e desvelar a presença do outro na ação e no texto produzido.

i) domínio da engenharia de produção desse texto.


Como professor, pensar em minha aula como um texto que será construído em espaços físicos e sociais e durante um tempo determinado exige que eu conheça o tema que irei desenvolver, mas exige muito mais. Esse ‘muito mais’ ao qual nos referimos acima é que deve estar na origem do planejamento anual.

5 de outubro de 2011

O DISCURSO RELIGIOSO NAS AULAS DE LCT

O discurso religioso é, em um primeiro momento, aquele no qual, de algum modo, fala a voz de Deus. O discurso religioso pode ser considerado, dessa perspectiva, como um discurso de autoridade. Uma de suas características é a defesa da submissão do indivíduo a forças que lhe são superiores.

Como todo enunciado, o discurso religioso implica também uma situação de enunciação. Ele não se destina a não à mera contemplação, ele é uma enunciação dirigida ao co-enunciador a quem o enunciador quer levar à ação, a fim de que haja compromisso de fé aos possíveis sentidos depreendidos dele/nele. Na relação desse eu que enuncia com aquilo que diz, pode-se perceber a capacidade de expressar tanto da interioridade do enunciador como o envolvimento do co-enunciador no processo de adesão aos efeitos de sentido religioso. Neste sentido, ressalta-se que o enunciador não deve ser compreendido como um ser empírico, de carne e osso, dado ao olhar, que possa ter uma presença depreendida do imaginário do co-enunciador, mas como uma manifestação discursiva de uma voz que carrega um corpo investidos de valores compartilhados socialmente e entendidos por meio de arquétipos e estereótipos.

É perceptível, no discurso religioso, a existência de marcas definidoras das relações de força e de sentido que formam as concepções imaginárias do discurso e que se deixam mostrar ao passo que o enunciador se revela. Esse imaginário é caracterizado por mecanismos simbólicos que são retraduzidos para significar aquilo que, separado do real, constitui a resposta uma determinada visão de mundo evocada.Dessa forma, podemos considerar também como discurso religioso aquele que mergulha literariamente na temática religiosa, das mais variadas maneiras, como a reflexão presente sobre o diabo em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

Orlandi (Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1988) também defende que, a compreensão de um discurso exige estar atento às condições em que foi produzido e considerar a linguagem como “interação, vista esta na perspectiva em que se define a relação necessária entre o homem e realidade natural e social”. Em outras palavras, todo estudo de um texto, visual, verbal ou verbovisual, exige a compreensão do tempo e espaço em que foi produzido e em que o seu sentido será construído, refletindo, dessa relação, os valores de mundo e sociedade presentes.