Nossos olhares para o mundo podem ser divididos
em dois: o olhar de presença e o de ausência.O olhar de presença presta atenção, estando
disposto a enxergar o melhor e a promover o bem. O olhar de ausência é
indiferente e apressado, não está preocupado legitimamente com aquilo a que se
dirige.
Por vezes, nosso olhar enxerga a solidão. Em alguns
momentos a solidão é desagradável e deve ser evitada. Contudo, ela nem sempre é
um sentimento ruim, pois pode tornar-se uma oportunidade para a reflexão: um diálogo
entre nós mesmos e uma oportunidade de repensarmo-nos diante da vida e de seus
mistérios.
Esses momentos de solidão são também momentos de silêncio
e de abertura para que o mundo nos interprete. São momentos em que entramos em
contato com o Mistério da vida.
Todos nós sentimos necessidade constante da
palavra: falar e ouvir, por isso, os momentos de silêncio podem parecer muito difíceis.
Nesses momentos olhamos e percebemos a realidade ao
nosso redor. O silêncio permite-nos prestar maior atenção nos fatos do mundo,
para compreender a realidade e comunicarmo-nos
com ela.
Segundo Martin Buber, nosso olhar pode ser de observação,
como quando olhamos as coisas buscando identificar todas as suas características.
Pode ser também de contemplação, quando
temos a intenção de conhecer a essência do outro que ali está, registrando
aquilo que nos impressiona no que observamos, prestando atenção a detalhes que passariam
desapercebidos no processo de observação. Pode ser também de tomada de
conhecimento íntimo, quando nos esforçamos para ver o outro, como parte de
quem somos, permitindo-nos que ele nos diga algo que se projeta no interior de
nossa própria vida. Todos esses olhares são importantes e colaboram entre si
para a construção de nossa identidade.
No olhar que enxerga o outro como parte de quem
somos há o convite para repensarmos a vida e planejar as nossas ações futuras.
Tomamos assim decisões sobre quem somos e quem desejamos ser. Cultivamos uma espiritualidade
que se faz compreensível e presente no mundo e que se nos relaciona
individualmente com valores que estão para além de nós mesmos e de nossas
necessidades mais imediatas.
Precisamos de nossas sensações para construir a
nossa espiritualidade e descobrir na intimidade de quem somos o Mistério
Transcendente. Segundo Edith Stein, todas as nossas sensações podem agrupadas
em três categorias: orgânicas (a fome, a sede, o sono etc); emocionais
(a alegria, a dor, a melancolia etc.) e espirituais (a sensação de estar
vivenciando o Transcendente, o amor desinteressado etc.).