Hoje, voltando para casa, a pé, ouço um comentário passageiro entre dois rapazes que passeavam os cães pelo bairro - cães que, provavelmente, não eram deles, mas escrever sobre isso será para outra vez! Um deles diz para o outro algo como "Mas, para o ano que vem, já decidi, não vou faltar na escola nunca, só se eu tiver muito doente mesmo!". Meu ouvido vibra em outra freqüência quando ouço a palavra 'escola'. É uma praga que me foi lançada por uma bruxa má do leste ou algo assim. Escutando-a, tentei contextualizar aquela fala. Parece-me que ele havia perdido o ano por faltas e estava renascendo em esperanças na possibilidade do novo ano. Um recomeço, uma ressurreição!
Retomando o conceito de 'tradição cristã', acho que a festa magna não é o Natal, mas a Páscoa. Na Páscoa temos a oportunidade de ressuscitar. De algum modo, também o temos no Ano-Novo. Deveríamos ter essa oportunidade todos os dias, a cada dia, mas estamos ocupados demais em morrer para pensar em ressuscitar. O ano que se inícia acena com essa possibilidade: Não perder aulas, encontrar um novo trabalho significativo, escrever um livro, construir um amor eterno... Desse ponto de vista, o novo ano acena-se como ressurreição. Uma Páscoa no início de janeiro. Uma Páscoa que começa com o Natal.
Nascer, ressuscitar, acolher, recomeçar. Em breve, nós que agora estamos às voltas com os términos, estaremos envolvidos com os recomeços. Entre eles um intervalo sempre insuficiente para tudo o que desejamos e precisamos, mas que seja suficiente para acolher a vida e ressuscitar em nossas esperanças e propósitos de continuar caminhando.