8 de dezembro de 2008

OS GÊNEROS TEXTUAIS NA ESCOLA


Muito se tem falado de gêneros textuais e escola. Atualmente, são vistos como o melhor caminho para o desenvolvimento do processo interativo de ensino-aprendizagem. Para alguns, que são a panacéia da vez. Como toda onda que chega à escola propondo-se a solucionar problemas, cria outros, por vezes maiores, fruto de má compreensão e falta de aprofundamento do tema. Talvez pior que o desconhecimento seja o mau conhecimento do tema.

Os gêneros textuais são, ao mesmo tempo, eventos lingüísticos e ações sociais. São modelos comunicativos que permitem aos interlocutores gerarem expectativas e previsões para elaborar a compreensão. Definem-se tanto por aspectos formais como funcionais, sendo estes últimos muito mais importantes. Ou seja, é mais importante entender a função do que a forma. E esse é um dos grandes problemas da escola, tradicionalmente espaço para formas e modelos prontos, não para reflexão e interatividade.
O estudo do gênero projeta a língua para a sua dinâmica social e histórica, superando uma concepção que a via apenas como instrumento para representar a realidade. A língua é a própria realidade: por meio dela agimos sobre o mundo e, de algum modo, o constituímos.

Os gêneros textuais são formas de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. São artefatos culturais construídos histórico-socialmente pelas pessoas. Por isso mesmo, muitas vezes, o predomínio da função supera a forma na determinação do gênero. Por exemplo, é possível ter uma notícia sem 'lide' e, ainda assim, será socialmente aceita como notícia. O mesmo para uma carta que não tenha vocativo, mas que comece com algo como "Que saudades de você!".

As dificuldades que a escola enfrenta ao centrar seus trabalhos nos gêneros localiza-se muito mais na dimensão social, portanto, funcional, do trabalho da linguagem do que na formal. Isso porque o ensinar o gênero pressupõe um anterior conviver com o gênero que, muitas vezes, não ocorre. Os gêneros refletem estruturas sociais recorrentes e típicas de uma determinada cultura. Isso exige que os trabalhos escolares com o gênero apenas se façam levando em conta a cultura na qual o gênero se constitui como ação social. Como explicar adequadamente o que são 'artigos de opinião' se a leitura dos mesmos não faz parte do meu cotidiano?

E assim inventamos novas listas de características para decorar e mais angústia por parte de quem aprende e de quem ensina.

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