Cenas aparentemente banais podem se tornar extraordinárias quando fotografadas. Tais imagens preservam o que está sendo fotografado, não há quaisquer efeitos especiais distorcendo a realidade, mas a maneira como são representadas oferecem um desafio a quem as vê. Desse modo, elas se tornam um peculiar convite a ver. Por meio da fotografia, o cotidiano assume possibilidades que vão muito além da trivialidade. Ao observar as fotografias a seguir, pense em como sempre é parcial a nossa perspectiva sobre as coisas:
Jennifer Bolande. Globo: St Marks Place, NYC (2001)
Jennifer Bolande. Globo: Ste. Catherine St, Montreal, NYC (2001)
Do nível da rua, Bolande fotografou globos terrestres próximos às janelas de algumas casas. Esse gesto permite-nos questionar nossa percepção e entendimento do mundo. Podemos refletir sobre como recebemos o conhecimento sobre o mundo: é nossa perspectiva de ver o mundo sempre parcial, enquadrada por janelas pelas quais olhamos? Há outros modos de ver o mundo sem ser por meio de ‘janelas’?
Em um nível mais abstrato podemos pensar no fato de todo ser humano fazer uso de microcosmos para compreender o macrocosmos. Em outras palavras, a nossa compreensão de algo é sempre limitada. O fato de não termos apenas uma foto, mas diversas ilustra bem o fato de que essa característica de ver o mundo por uma perspectiva, uma janela que nunca nos dá uma visão completa, é parte intrínseca de nossa cultura.
Ao examinar a fotografia a seguir, permita-se entrar no jogo que a imagem nos propõe, em que o pó e lixo se tornam um microuniverso, uma imagem do cosmos de detritos que, todos os dias, temos de enfrentar.
Peter Fraser. Sem título, 2002 (2002)
As fotografias que estamos analisando aqui tentam, de modo muito sutil, transformar a nossa percepção do cotidiano. Uma nave espacial atravessa o universo, ao mesmo tempo, um pedaço de papel jaz no chão, entre pó e detritos. Desse modo, o lixo sem estado fixo ou status cultural, se converte numa imagem que nos remete ao universo da ficção científica.
Observe, agora, esta interessante fotografia do francês Jean-Marc Bustamante a partir de seu título “Está faltando alguma coisa”:
Jean-Marc Bustamante, Está faltando alguma coisa (1997)
A cerca que aparece em primeiro plano entre o observador e a paisagem como um todo nos afasta do outro lado que fortalecendo a ideia do espaço fotografado de um espaço interdito ao leitor. O chão e as paredes gastos, sugerindo a passagem do tempo, reforçada pela ausência: onde estão aqueles que viveram essa passagem do tempo? A mesa com a cadeira ao fundo, bem como as plantas, sugerem a presença humana que no entanto falta, presa do outro lado da fotografia como plateia.
Adorei, sou apaixonda por forografia, mais um que vou colocar no meu blog, ok!
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