A maioria de nós, em algum momento de sua vida, deve tornar-se pai e mãe de si mesmo. Não devemos esperar, para isso, que nossos pais faleçam antes. O desafio é o de desenvolvermos, em nós mesmos, uma consciência, ao mesmo tempo, materna e paterna. Isso exige, naturalmente, a maturidade para libertar-se dos vultos externos de pai e mãe, na dependência que caracteriza a infância, e reconstruí-los dentro de nós mesmos, no mais íntimo de nossa identidade.
A consciência materna é profundamente afetiva. Ela nos acalanta, nos afaga: é pura ternura e carinho. Ela nos desculpa. A consciência paterna, por sua vez, é mais racional. Ela nos censura quando agimos de modo inconsequente. Ela também nos disciplina conforme necessário.
Não se trata de incorporar o pai e mãe reais que tivemos e que podem, em alguns casos, até terem sido exemplos deficientes de paternidade ou maternidade. Trata-se, antes, de edificar uma consciência paterna sobre sua razão e julgamento, tanto de si mesmo como dos outros e uma consciência materna sobre a sua própria capacidade de amar-se e de amar aos outros.
Não há necessidade de escolher uma consciência sobre a outra. Assim como temos consciência de que somos amados pelo nossos pai e mãe, ainda que de modos diferentes, também desenvolvemos a capacidade de amar com a consciência paterna e com a materna. Juntas, em interação. Elas não se contradizem, embora talvez, em um primeiro momento possam ameaçar fazê-lo.
O amor da consciência paterna é guiado por princípios e expectativas. Deve ser tolerante e paciente, mais do que ameaçador e autoritário. É uma manifestação de amor que constrói um senso de competência no outro e que o ajuda a ser autônomo e a tomar as suas próprias decisões.
O amor da consciência materna é embasado na fé na vida. Transmite segurança e proteção. Por esperar o melhor de si mesmo e do outro, não se firma na ansiedade, mas no otimismo e na esperança. Uma pessoa que detém apenas a consciência paterna torna-se áspera e rude no seu exagerado senso de justiça e de correção. A pessoa que retém apenas a consciência materna, perde o critério de julgamento e acaba por atrapalhar o seu próprio desenvolvimento e o de outros.
Por isso, ambas as formas de amor necessitam vir equilibradas entre si, para que uma forma de consciência e de amor regule a outra e constituam a plenitude de nossa identidade.