É comum pensarmos no texto como um produto acabado, funcionando como uma estante, na qual se encontra a informação que se deseja. Vamos até o texto-estante, pegamos essa informação e já está! Porém um texto não é um produto, nem algo pronto e acabado como uma estante: ele é um processo.
Considerar o texto como um processo tem repercussões no nosso modo de nos relacionarmos com ele, ou seja, de sermos leitores. Embora um texto escrito pareça terminado depois do ponto final, ele está apenas começando a sua história. Ao longo dessa história ele participará em diferentes recepções pelos diversos leitores.
Todo texto apresenta-se como uma provocação ao leitor, uma proposta de sentido aberto a várias possibilidades de compreensão. Nem todos os sentidos construídos pelos diferentes leitores estarão de acordo com as intenções pelas quais ele foi produzido. Essas diferentes compreensões somente poderão, portanto, se legitimar se forem compatíveis entre si e, de algum modo, se relacionarem com o processo inicial que deu origem ao texto.
Um texto, é verdade, deve preencher alguns critérios de formulação, mas esses não são condições que se traduzam numa gramática do texto, como um conjunto de regras fixo de boa formação ou boa leitura. A coerência de um texto relaciona-se intimamente com a perspectiva interpretativa do leitor. Um texto pode ter coerências diversas a partir da perspectiva interpretativa do leitor.
Convém destacar, no entanto, que um texto também não pode ser visto como uma caixa de surpresas da qual pode sair qualquer coisa. Ele tem um objetivo social: comunicar. Se qualquer compreensão de um texto fosse válida então todos nós viveríamos em eterna confusão. Há limites para a interpretação de um texto. Isso significa que o processo de construção de coerência do leitor, na busca de construir a compreensão de um texto, nem sempre é feliz.
Consideraremos, portanto, um texto como um evento ou ato comunicativo para o qual convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas. A função central de um texto não é informar, mas constituir identidades, ou seja, adequar um leitor a um determinado objetivo e contexto. Desse processo, resulta a comunicação. Por isso, podemos afirmar que o sentido de um texto não está no autor, nem no próprio texto, tampouco no leitor, mas nas relações entre eles e nas atividades que eles desenvolvem entre si.
Em outras palavras, aprendemos a compreender um texto, lidando com ele, com as suas fronteiras e possibilidades. A escola, portanto, deve centrar na leitura um dos seus principais trabalhos educativos não sobrecarregando os estudantes de textos para ler, mas por desenvolver um currículo e uma metodologias centrados na prática leitora.
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