Texto, gênero, tipo e discurso são termos usuais na escola. Muitas vezes, ao empregar tais termos, extraídos de modo um tanto apressado de teóricos que se debruçam sobre o tema, pensa-se em conceitos homogêneos, fechados, claros do que sejam e que, facilmente, podem ser transpostos para a escola e assimilados por ela. Embora não se saiba muito claramente como, em certos momentos atribuí-se a uma certa má vontade docente.
A confusão resultante desse equívoco terminológico é grande. Nosso objetivo, neste momento, é comparar esses conceitos em três estudiosos do assunto: o brasileiro Luiz Marcuschi, muito citado pela escola brasileira; os franceses, Jean-Paul Bronckart e Jean-Michel Adam, com cujas teorias a obra de Marcuschi estabelece um constante diálogo. Naturalmente, a abordagem aqui proposta é muito breve e despretensiosa, mas, ainda assim, pode ser útil como momento de reflexão sobre o tema.
Para Marcuschi (2002), texto é um evento ou acontecimento lingüístico, "uma entidade concreta, realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual". Já gênero textual é "uma noção propostalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comuncativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica". Desse modo, a descrição do gênero é, principalmente, funcional e/ou contextual. Tipo textual designa uma "espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição", no que ele inclui aspectos lexicais e morfossintáticos, acrescentando: "Em geral, os tipos textuais abrangem cerca demeia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção". Discurso, por sua vez, "é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva", ou seja, uma esfera de atividade humana.
Para Bronckart (1997), texto é "uma unidade de produção de linguagem situada, acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação)". Por sua vez, gênero de texto é o conjunto de textos no qual um texto se insere e que está em interdependência com as atividades humanas. Por isso mesmo, nunca pode ser definido unicamente por meio de critérios puramente lingüísticos. Já tipos de discurso (e não tipos textuais) designam segmentos que entram na composição do gênero de texto e que são identificados por características lingüísticas específicas, em número finito.
Para Adam (1999), os gêneros textuais são também famílias de textos formadas a partir de necessidades sociais e apresentando características estáveis . Discurso é o texto mais o contexto, ou seja, as condições de produção e recepção-interpretação.
Nestas três abordagens, os gêneros textuais como uma designação ao mesmo tempo convencional e histórica para uma determinada família de textos aproximados por similaridades, um modelo ao qual se chega por abstração. No âmbito dos gêneros textuais, procuram fazer descrições textuais. Discurso é, contudo, o conceito que apresenta maior variação conceitual e sobre o qual vale a pena um aprofundamento.
Dentro dos estudos bakhtinianos, o texto é um produto material concreto que surge de um universo igualmente concreto que é o gênero. Aquilo que Marcuschi chama de Discurso (ou seja, o "que o texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva"), deveria, mais apropriadamente, denominar-se sentido ou tema do enunciado, em uma concepção bakhtiniana. Bronckart contesta a dependência entre formas de atividades e gêneros de discurso, dada pelo discurso bakhtiniano. Adam está mais preocupado com a descrição lingüística da composição do texto e para isso promove a inserção dos estudos de lingüística textual no centro dos estudos discursivos.
Alguma bibliografia
ADAM, J-M. Linguistique textuelle: des genres de discours aux textes. Paris: Nathan.
BRONCKART, J-p. Atividades de Linguagens, texto e discursos. Por um interacionismo sócio-discursivo. Trad. Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: Educ, 1997 (1999).
MARCUSCHI, L. A. "Gêneros textos: definição e funcionalidade" In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (orgs.) Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna. p. 19-36.
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