Quando você pergunta para um colega se ele está bem, você está sendo o locutor ou, enunciador de uma mensagem e seu colega, respectivamente, o interlocutor. Claro que na hora que o seu colega lhe responde, os papéis se invertem e você passa a ser o interlocutor e o seu colega o locutor. Nessa simples conversa, porém, há uma intenção, um comportamento esperado, o desejo de manter contato com o outro.
O papel do interlocutor não é o de simplesmente receber a mensagem. Pois, à medida que a recebe, interfere no locutor, chegando até mesmo a muda essa mensagem radicalmente. Pense, por exemplo, em uma criança contando para a mãe uma mentira. A mãe que é a receptora da mensagem, começa a fazer uma expressão de quem não está acreditando muito.
O que costuma a fazer uma criança nessa situação? Continua contando a mentira normalmente ou procurara alterá-la para que fique mais convincente?
Todo aquele que se comunica – falando, pintando, escrevendo, dançando etc. – tem sempre uma intenção ou intencionalidade comunicativa. Ele não está apenas querendo transmitir uma mensagem, mas interagir com o outro. Toda interação por meio da linguagem tem sempre uma intenção de modificar o comportamento ou o pensamento de nosso interlocutor. A isso chamamos intencionalidade do discurso ou do ato de comunicação.
Uma ação simples, como ir ao cinema, exige tomar uma série de outras ações que envolvem a linguagem: como conseguir os ingressos, como chegar ao local, se haverá necessidade de ler as legendas etc. Cada uma dessas pequenas ações pede que adequemos a nossa linguagem e outros recursos de comunicação.
O uso de estratégias de interação entre o interlocutor que produz o texto e aquele que o vai usar é ainda mais complexo ao pensarmos no texto escrito. Isso porque pode passar-se muito tempo entre as circunstâncias de escrita, o que chamamos de contexto de produção, e as circunstâncias de leitura, ou contexto de uso. As diferenças espaciais e temporais certamente interferem na produção de sentidos
Saber lidar com as intencionalidades comunicativas nos permite impressionar, implorar, pedir, questionar, ofender e um longo etc. Compreendendo a intenção comunicativa do texto, podemos também escolher até que ponto desejamos participar no processo comunicativo. Podemos também compreender até que ponto podemos esperar a participação do outro.
Um dos grandes desafios de quem produz um texto é fazer o locutário cooperar. Em outras palavras, fazê-lo com que esteja disposto a interpretar o texto de acordo com as intenções do locutor.
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