18 de agosto de 2011

BAKHTIN, ESCOLA E AS POSSIBILIDADES DO TEXTO LITERÁRIO – PARTE 1

Com Bakhtin aprendemos que uma compreensão adequado do texto literário requer um processo plural, orientado segundo diferentes perspectivas. Entrecruzam-se nos estudos da Literatura, o estudo do signo – verbal e não-verbal –, da cultura, dos valores, das relações psicológicas, da história, da sociedade, da religião e um longo etc. que, aparentemente, não termina. Assim, estudar Literatura é convocar todas as ciências humanas, procurando compreender os muitos fios que unem o literário ao que não o é. Uma das relações mais importantes para Bakhtin é a relação que se dá entre o texto literário e a realidade extraliterária, na sua dimensão ética.


Isso significa ir além das fronteiras do campo literário, em uma atitude que parte do texto literário e a ele volta, mas faz os mais diferentes percursos procurando as conexões entre Literatura e Vida, Literatura e Palavra, Literatura e Eu, Literatura e Arte, Literatura e Valores etc.

O estudo da Literatura, que se encontra na Instituição Escolar, não pode ser em um único sentido, em um estudo que sobrepõe movimentos e características. O estudo literário é, por sua própria natureza, dialógico, aberto à compreensão responsiva, ou seja, aquela compreensão que movimento o leitor a agir e o coloca em atitude de alteridade diante do outro. Isso faz do texto literário campo privilegiado para o estudo de conceitos próprios dos estudos da linguagem, tais como signo, enunciado, texto, gênero discursivo etc. Conceitos aos que Bakhtin irá dedicar muito com afinco. Mas, o texto literário também se abre ao estudo das teorias da identidade, do transcendente, do relacionamento, ou seja, de um leque de conhecimentos que estão em esferas de atividade sociológicas, psicológicas, teológicas etc. Isso porque Bakhtin recupera no estudo do texto literário o caráter universalizante presente na gênese dos estudos filosóficos. O estudo literário é um estudo da Filosofia da Linguagem que busca as constantes aproximações e confrontos presentes na palavra tornada ação.

A palavra na Literatura é sempre uma palavra dialógica que ultrapassa os limites do texto literário. É uma palavra semente que se abre á fecundação do momento psico-histórico de sua enunciação. A escritura literária reelabora e reorganiza, de uma perspectiva específica, o mundo em que as palavras se enunciam. Isso traz o contexto para a própria enunciação do texto literário.

O contexto não é algo externo ao texto, mas está ali, presente no próprio texto, incorporado a ele, em todo o processo enunciativo, tanto na escritura como na leitura. É no próprio corpo do texto literário que precisamos buscar o contexto superando as explicações que o situam o texto em um jogo de causas e efeitos.

O leitor mais que ler, vive o texto literário, na fecundidade da compreensão responsiva que o mesmo permite. Viver o texto literário é considerá-lo como um texto responsivo que se abre como uma (nunca ‘a’) resposta ao mundo e pondo em evidência os valores que constituem esse mesmo mundo. O principal valor que emerge nesse processo é o valor estético, o valor literário da obra. Mas, como o texto circula no mundo do qual ele mesmo surge, como produto e como agente de relações de alteridade, o texto literário ocupa-se também do valor ético.

Bakhtin preocupa-se com as relações entre arte e responsabilidade. A literatura experimenta os valores das relações pessoais e interpessoais no caráter dialógico da linguagem. O valor estético se desenha no jogo, considerado aqui como uma constante (e, por vezes, nunca encontrada) busca de equilíbrio, entre o valor singular e o da interação, entre o da identidade e o da alteridade.

O signo verbal constrói a identidade, mas, sobretudo, constrói a alteridade. Desse modo, o estudioso – que inclui o professor – move-se de valorizar a identidade construída pela linguagem, para a alteridade que a linguagem constrói e que, se a qual, não há identidade.

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