Alguém me perguntou por que me considero um educador e se não bastaria dizer que sou um professor. Ou se não é generalizante demais dizer-me educador, ao invés de dizer-me professor. É uma boa pergunta: sou grato a quem me procura ler para além das linhas e me ajuda, desse modo, a compreender-me nas minhas entrelinhas, naquilo que, por vezes, nem mesmo eu me compreendo.
Antes de tudo, diga-se, sou um professor: de Língua Portuguesa e de Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa. Duas áreas do saber que se entrelaçam de tal modo que me fazem, por vezes, ter dificuldades em ver os limites de cada uma delas. Sou professor e, na construção de minha identidade profissional, professo o que conheço e professo minha constante sede de conhecer. Ser professor está, no meu caso, incluído em quem sou e em como vejo o outro e, por isso, faz parte também de algo que considero maior: ser educador.
Ser educador, etimologicamente, é tanto ser aquele que conduz o outro para fora, permitindo que ele ascenda, chegue ao alto, como aquele que alimenta, forma e cuida do outro. Claro, há mais acepções, mas estas duas já me são suficientes para delinear como entendo o educador.
Minha utopia: ser aquele que auxilia o outro a ir para o alto.
Cuidar e alimentar o outro são parte desse processo, mas não resolvem a sua totalidade. Quero mais. Cuidar e alimentar são atividades que faço quando professo – quando declaro – o que conheço, ou seja, quando sou professor. Mas, se sou um professor-educador, então, não me conformo com dar o alimento, mas com possibilitar que aquele a quem alimento vá para o alto, ascenda.
Quando comecei a escrever este blog não havia muitas pretensões de alteridade. Escrevia, sobretudo, para mim. Era o desejo de construir breves reflexões sobre tudo o que estava relacionado à educação que, de algum modo, me afetasse. Era um modo de pensar(-me). Mesmo assim, havia a necessidade-esperança de ser um voo mais alto do que aquele que o professor de Língua Portuguesa ou o de Metodologia poderia dar. Ao longo destes anos tenho falado muito de Linguagem, mas também de Religião, de Trabalho em Grupos, de Pais etc.
Aos poucos comecei a notar que o que escrevia afetava outros. A alteridade começou a atravessar-se no meu escrever. Tenho tentado largar a linguagem própria da academia por uma mais próxima de parcela de leitores que muito me interessa: aqueles que, de algum modo, podem ser ajudados, pelos meus textos, a ascender. Tenho procurado – nem sempre conseguido – por assuntos que se relacionem mais com certas demandas gerais. Talvez, haja razão em dizer que o resultado é que o educador e o professor se fundiram mais ainda.
Contudo, não me vejo como professor desses benevolentes leitores, mas se, de algum modo, por meio de pequenas reflexões – por vezes, pequenas demais, para meu gosto, mas do tamanho que possam ser lidas rapidamente, por aqueles que têm sempre tão pouco tempo – posso possibilitar que o outro suba um pouco, então, me vejo como um educador, mais ainda, como um co-educador. Esse outro que está longe dos centros de estudo e pesquisa, da vida acadêmica, talvez até da formação universitária, das boas bibliotecas, de um longo etc. mas que, mesmo assim, é educador. Esse outro: professor, coordenador, diretor, bibliotecário, merendeira, estudante ou qualquer outro papel que construa o palco educativo. Esse outro que gostaria que me visse como companheiro, não como um professor que lhe transmite informações.
Educador é, então, a palavra que mais se aproxima de todos esses leitores, sem trair minha identidade, sem que deixe de ser professor.
Olá José Luis. Embora venha buscando compreender essa amplidão acerca da profissão, que também é a minha,poucas pessoas conseguiram defender com clareza a idéia. Gosto de ler os textos que escreves por serem claros e objetivos. Obrigada !
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