Essa pergunta parece óbvia, mas não é.
O componente “Língua Portuguesa” entra na grade curricular brasileira, nos
finais do século XIX, e com uma aula por semana, no último ano. Havia aulas de
leitura, de retórica, de latim, mas não se sentia a necessidade de uma aula de
Língua Portuguesa, porque falar português era algo considerado aprendizagem de
casa.
O motivo de estudar "Língua Portuguesa"
na escola mudou muito nos últimos cem anos.
Inicialmente, a ideia é que quem fala bem,
pensa bem. Ou seja, a palavra traduz o pensamento. Nessa linha de
raciocínio, para pensar de modo correto, eu teria de aprender a falar de modo
correto. Aí era importante o estudo de regras gramaticais e de apagar da
criança qualquer coisa que pudesse significar que ela dominava a gramática,
porque isso significaria que ela não conseguia pensar direito. Daí uma ideia,
muito comum até hoje de português correto e errado, ou seja, aquele que nos faz
pensar corretamente e aquele que revela dificuldades de raciocínio. Essa
perspectiva, oficialmente, vai da origem do componente curricular até, começo
da década de 70.
Principalmente a partir da década de
70, os documentos oficiais mudam o conceito de por que estudar português na
escola. O motivo passa a ser a comunicação. Estudamos português para aprendermos
a nos comunicarmos melhor. Ou seja, tudo o que ajudar o cidadão a se comuncar
melhor, tinha que fazer parte da disciplina "Língua Portuguesa".
Contudo, é também a época da ditadura, de guerra fria etc... então,
comunicar-se é perigoso. Há a censura, as perseguições etc. Assim, a escola
ensina as técnicas da comunicação e da expressão. A ideia é que conhecendo as
técnicas, o mundo lá fora se encarregaria de ensinar a aplicá-las na prática.
A década de 90 traz os PCN e com eles a
ideia de que comunicar é trabalhar com a linguagem, é um fazer com o
português. Fazer o quê? Fazer tudo: comunicar-se, namorar, escrever um diário,
ler um poema, comprar um carro... tudo é feito por meio da linguagem e tudo é
feito exigindo diferentes usos da linguagem. Falar, escrever são modos de agir
no mundo. Então, a língua portuguesa passa a ser estudada a partir da realidade
em que ela é vivida e possiblitando a capacidade do estudante se adequar às
diferentes realidades: falar com o presidente de uma grande empresa, com todo o
uso das regras gramaticais da norma padrão, ou bater papo informalmente
numa roda de amigos.
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