Chamamos de fotografias de quadros ou de quadros-vivos àquelas que concentram em uma única imagem toda uma história. A fotografia contemporânea também tem se apropriado da narrativa para construir a sua visão de arte.Ao examinar a imagem a seguir, imagine-a como uma pequena narrativa própria das ruas em que vivemos. O que esta fotografia nos está contando?
Na foto Transeunte, uma foto em preto e branco com um homem virado de costas para a câmera e se afastando dela, o canadense Jeff Wall constrói uma imagem que nos remete para a natureza da vida nas grandes cidades, em que o desconhecido e o escuro nos ameaçam. A foto se aproxima de uma fotorreportagem noturna e capta a tensão existente entre a aparência e a substância, entre o que é e o que parece ser.
A foto parece ser um acaso, mas é, na verdade, encenada e, normalmente, envolve um grupo de atores. Tudo tendo sido meticulosamente pensado para contar a história. O fotográfo, dessa maneira, se aproxima do diretor de cinema ou do maestro conduzindo a sua orquestra.
A fotografia de quadro-vivo, contudo, não deseja simplesmente contar uma história, mas instaurar, no observador, uma certa dose de ansiedade e incerteza. Uma das técnicas utilizadas para isso é a de reproduzir sujeitos cujo rosto não está voltado para nós. É o que se vê na fotografia a seguir de Hannah Starkey:
Sem ver o rosto, ficamos sem qualquer explicação sobre o caráter do fotografado. Isso facilita, como em Março de 2002 que se crie uma atmosfera misteriosa que, por vezes, nos afasta da realidade. Para construirmos sentido numa foto como essa nos valemos mais do processo de interligar o espaço e os objetos da cena do que aquilo que deveria ser mais importante, o ser humano fotografado.
Essa mulher tanto pode ser uma habitante de uma cidade aguardando o seu pedido em um restaurante oriental, como uma sereia de longos cabelos grisalhos enrolados em torno dos ombros.
Observe, agora, esta outra foto de Jeff Wall e pense em que narrativa ela esconde:
Observe que enquanto uma jovem lê despreocupadamente na casa bagunçada, a outra se movimenta com um pano na mão, aparentemente preocupada em organizar o ambiente. Ao fundo, a vista deslumbrante do exterior, que dá nome à fotografia (Vista desde um apartamento), com o porto ao longe, é ignorada por ambas.
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