O QUE É O BULLYING?
O termo 'bullying' traduz uma reflexão nova sobre um problema antigo: o
da violência escolar entre os alunos. O termo inglês bully ou
seja valentão é a raiz do termo bullying, que se caracteríza por agressões
intencionais, psicológicas ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou
mais alunos contra um ou mais colegas. Inclui também a exclusão social e o
ciberbullying. Não podemos ir de uma ponta à outra e considerar brigas
ocasionais como bullying, nem toda agressão é bullying, mas todo bullying é uma
agressão, uma das principais causas de suicídio entre jovens.
O bullying não tem idade, propriamente.
A partir dos 3 anos, as crianças já podem ser agressivas com seus pares,
provocando bullying, ou seja, uma ou mais crianças podem ser agressivas
constantemente contra um colega, ofendendo-o ou excluindo-o. É um fenômeno que
ocorre entre meninos e meninas, mas com algumas diferenças. Entre os meninos
costuma ser mais frontal, com uma agressividade mais visível. As meninas
costumam ser mais veladas, com o uso de fofocas, olhares e principalmente,
exclusão social. Elas agem de acordo com a expectativa social que considera as
meninas mais docéis que os meninos, mais 'quietinhas'. Mas as formas veladas de
bullying podem ser tão ou mais crueis do que as formas visíveis.
POR QUE OCORRE O BULLYING?
Usualmente, o bullying revela um desequilíbrio psíquico do agressor. Ele
se sente menos, de algum modo, e deseja compensar isso sentindo-se mais
popular, mais poderoso e mais querido. Na base da violência costuma estar a sua
própria insegurança e uma visão distorcida da autoimagem. Discute-se muito o
papel da influência nesse processo, mas é sabido que aprendemos - coisas boas e
más - por meio de modelos. Assim, modelos de violência em casa costuma
replicar-se em outras situações. A violência gera violência e, em alguns casos,
crianças que sofreram bullying podem ser causadoras do bullying em outras.
Importante destacar o papel de coautoria dos que assistem e incentivam,
nem que seja apenas com a sua presença, o bullying sendo praticado. Usualmente
não se considera essa figura na importância que ela tem, de coautoria,
participando no processo de fornecer lenha à fogueira de violência acesa pelo
agressor.O bullying não pode ser visto como um circo ou espetáculo. Muitas
vezes o bullying é incentivado como forma de ‘diminuir’ o tédio entre os
adolescentes. E a presença da assistência encoraja essa atitude.
E QUANDO SE É VÍTIMA DE
BULLYING?
Não reagir no nível do agressor. Ou seja, o
agressor é como um assaltante de sua integridade e, via regra, sabe que pode
tirar partido dessa condição aparentemente superior. Evitar situações de
confronto e perigo e, sobretudo, procurar ajuda. Ao procurar ajuda, a tendência
é que a provocação cesse.
Procure ajuda e se essa ajuda não se mostrar a altura da gravidade do problema,
recorra a outras instâncias. A figura do psicopedagogo está entrando na escola
com cada vez maior força e esse profissional, quando devidamente preparado,
pode trazer benefícios. Vale a pena também procurar os pais e, até, a direção
da escola. O importante é não calar, mas contar para pessoas de confiança.
A par disso, investir no desenvolvimento da autoconfiança. Você não é a imagem
que o agressor está divulgando de você, mas a dor pode ser tanta que pode
confundir a pessoa, ainda mais no período de descoberta e reconstrução que é a
adolescência. A experiência do bullying é tenebrosa, mas, até lamentavelmente,
não é um caso isolado, portanto, não há porque se sentir, efetivamente,
excluído. É importante ter claro que os errados são os agressores, não as
vítimas. Praticar um esporte ou inscrever-se em um curso ou investir em
quaisquer talentos pode ser um modo de cultivar a autoconfiança que as práticas
de bullying podem minar.
E QUANDO A VIOLÊNCIA É CONTRA OS PROFESSORES?
Não se trata de bullying, mas é igualmente comum na escola atual e exige
a reflexão sobre o convívio entre os membros da comunidade escolar. Quando as
agressões ocorrem, o problema é de toda a escola. Importante priorizar essa
violência no ambiente escolar, não escondê-la ou diminuir a sua gravidade. Em
uma reunião com todos os educadores, pode-se descobrir se está acontecendo com
outras pessoas da equipe para intervir e restabelecer o respeito.
O ponto central é investir no desenvolvimento do RESPEITO no ambiente escolar,
começando pelo respeito dos professores (e outros educadores) para com os
alunos.
A questão a responder é se o problema é com um professor só ou com a escola
como um todo. Se é apenas de um aluno para com os professores ou de todos os
alunos.
Se é com um professor só, isso não significa que a ‘culpa’ seja do professor.
Ele é vítima da violência, mas deve-se entender o processo, pois pode ser que o
estudante esteja tendo problemas em legitimar a autoridade docente. O professor
é uma autoridade na sala de aula, mas essa autoridade só é legitimada com o
reconhecimento dos alunos em uma relação de respeito mútua.
Em questão de respeito, não basta dizer: "Olha, você me respeite!". O
respeito se conquista e se constrói.
Importante investir na construção do respeito no espaço escolar. O que nunca
pode ocorrer é o professor revidar no mesmo nível ou demonstrar, de qualquer
modo, violência, falta de controle ou ser modelo de desrespeito. Os papeis
sociais são bem diferentes: o educando está em processo de formação e o
educador é o adulto do conflito e precisa preservar a sua dignidade, não ganhar
a briga.
COMO EDUCADORES, QUAL DEVE SER A NOSSA REAÇÃO?
Importante nunca subestimar a situação. A violência escolar não é
normal. Não se consola a vítima dizendo que o acontecido 'não é nada', que
'está tudo bem' etc.
É fundamental ouvir a vítima com atenção e respeito. Como quem deseja ajudar,
mas permitindo que a pessoa se expresse sem ser cortada ou como quem tem pressa
em que se acabe o assunto.
O respeito é um dos principais saberes que devem ser desenvolvidos em sala de
aula. Dar um tratamento prioritário ao desenvolvimento do respeito, não
imaginar que o aluno já sabe respeitar, é algo que deve ocupar o currículo e o
imaginário da escola.
O educador deve deixar claro que não tolera a violência ou o desrespeito. E
isso deve ser demonstrado no cotidiano, pela prática. Há um perigo muito grande
nas ‘risadinhas’ ou em atitudes que replicam desrespeito aos alunos. O educador
deve ser exemplo em respeitar o estudante. O educador (pai, professor, diretor
etc) deve mostrar-se exemplo de moral e de princípios.
A solidariedade, a generosidade, a convivência devem ser procedimentos
desenvolvidos conscientemente na prática educativa escolar e familiar.
Quando se sabe de um problema é importante aproximar-se do aluno que ameaça os
colegas, sem expor ou diminuir as vítimas. É comum que tal aproximação ajude a
mudar a atitude. Muitas vezes, o agressor também é, de algum modo, vítima de
abuso verbal ou físico em casa. Ou de uma educação sem valores.
É, portanto, muito importante que a escola se aproxime também do agressor.
Ouvindo-o.
Sozinha, a escola não consegue uma solução. O caminho envolve diferentes forças
trabalhando solidariamente: escola, estado, pais, mídias etc. Normalmente é no
ambiente escolar que se demonstram os primeiros sinais de um praticante de
bullying e que mais tarde poderá se tornar um adulto violento com dificuldades
de lidar com os outros e consigo mesmo.
Os pais devem se mostrar próximos da escola, tanto quando o fílho é vítima como
quando é agressor. Por vezes, o filho agressor também é vítima de uma situação
específica que requer atenção, sem deixar de lado os limites. Então, escândalos
ou demonstrações de poder na frente dos outros não resolvem nada.
No dia a dia, é importante ensinar o valor dos limites. A falta de
limites é um dos problemas mais sérios no desenvolvimento de uma mentalidade
das crianças e jovens. Cria-se a fantasia de que 'posso fazer qualquer coisa
que, no final, me saio bem'. Desse modo, resulta uma mentalidade igualmente
fantasiosa de 'posso agredir quem quer que seja, pois sou melhor do que o
outro". Daí para problemas piores, é um pulo.
O respeito à alteridade é uma aprendizagem escolar e familiar fundamental para criarmos uma verdadeir cultura antibullying.