20 de maio de 2013

A TRANSCENDÊNCIA, A FÉ E A ARTE...


Todos nós somos limitados e feitos de fragmentos. Pedaços de quem somos fazem com que muitas vezes sejamos, até, contraditórios. Falamos algo e somos até sinceros em nossa exposição, mas pouco depois agimos de modo contrário àquilo que dissemos. Espantamo-nos que no nosso coração sejamos capazes de sentir, ao mesmo tempo, sentimentos contrários entre si.

Já o antigo poeta romano Catulo (Verona, 87 ou 84 a.C. - 57 ou 54 a.C.) disse:

Odi et amo, quare id faciam fortasse requiris, nescio sed fieri sentio et excrucior

(= Odeio e amo, como isso é possível, você se pergunto. Não sei, apenas sei que assim o sinto e sofro muito por causa disso)

Mas, em algum momento, podemos viver uma experiência de transcendência. Ou seja, por algum motivo, experimentamos uma sensação de totalidade. Sentimo-nos, de fato, um. E, por vezes, não apenas um conosco mesmos, mas até um com os outros que vivem ao nosso redor.

O espírito humano então se eleva sobre as fronteiras que o tornam pequeno, menor do que gostaria de se sentir e ele se sente total. É uma experiência do cotidiano. Trata-se de uma elevação sobre os limites da vida que nem sempre é religiosa e, por natureza, é sempre de curta duração. Nem mesmo para o místico dura por muito tempo. É tarefa da religião preservar essa experiência, permitindo que  ela ajude aquele que crê a se aproximar de Deus.

É também tarefa das Artes preservá-la. Possibilitando que o observador experiente se aproxime mais perto de si mesmo e do outro, construindo-se em ponte. O poeta Mário de Sá Carneiro (Lisboa, 1890 - Paris, 1916) escreveu:

“Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro”.

A arte, sozinha,  não pode assegurar que essa ponte seja de amor ou de tédio. Isso cabe a cada um de nós escolher. Tais escolhas nunca são fáceis e levam-nos a visitarmos cada espaço interior nosso no trato cotidiano. Melhor optar por ser ponte de ternura e amor. Mas uma coisa é certa: somos pontes de ‘mim para o Outro’.

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