Todo pensamento vale
sua existência pelo simples exercício de pensar. Pensar é um luxo nos dias
atuais em que há tantas maquinações para pensarem por nós. Apresentam-nos,
calmamente e com a maior desfaçatez, o que e como devemos pensar.
Nada mais temos a fazer do que
reproduzir. E a maior ilusão que nos impingem sequer é essa, mas fazem-nos crer
que os pensamentos dos outros que pensamos, como quem se alimenta de comida
regurgitada são, na verdade, pensamentos nossos, que estamos sendo originais. Acreditamos, sinceramente, que pensamos o que outros pensaram por nós.
De fato, todo
pensamento, genuinamente nosso, vale a sua existência pelo simples exercício de
pensar. Mas isso não o legitima.
O exercício de
pensar não termina em dar à luz o pensamento. Como parte desse exercício há o
pedido urgente para visitar esse pensamento em botão pelo bom senso, pela
justiça, pela ternura e pela caridade antes de que ele se torne palavras e
ação.
Isso porque as
palavras e as ações repercutem nas outras pessoas, mesmo que esse outro sejamos
nós mesmos. Então as palavras e ações, enquanto são ainda pensamentos, precisam
aprender a lição das borboletas.
No campo e nas matas
vemos as borboletas cheias de cor e vida, mas sabemos que antes elas foram
crisálidas abrigando uma lagarta. A lagarta é o nosso pensamento. Ele deve
estar prenhe de virar crisálida, ser pensado como pensamento, ser visitado pela
ternura, para não promover a agressividade e a dor, pela justiça, para não
falhar com ninguém, pelo bom senso, para não cairmos no ridículo e pela
caridade que é expressão do amor e, afinal, o amor é o que, de fato, fica. O amor nunca acaba.
Como nos fala a
canção mínima, de Cecília Meireles:
Canção Mínima
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
Texto maravilhoso, simples e profundo.
ResponderExcluirParabéns professor